São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Perda na virada para o real é estatística

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Nos dez primeiros dias úteis de maio o Banco Central promoveu sete correções na variação da URV. Dos 42,81% do dia 2 para 42,91% no dia 4, 43,01% no dia 6, 43,46% dia 10, 43,86% dia 11, 43,87% na quinta-feira e 44%.
Demonstra, com este ritmo, que não quer fazer qualquer ajuste brusco. Pelas expectativas majoritárias dos três índices que formam a URV, terá de insistir nessa tática até fechar o mês entre 45% e 45,5%.
Tudo indica que, neste mês, a sorte da URV será decidida pelo IPCA-Especial. Já existe o consenso de que, pressionado pelo vestuário e pela urvização das tarifas públicas, o IPC/Fipe encostará nos 47%. E o IGP-M, contido pelos preços no atacado, não deve passar de 44%. Já o IPCA-E é uma incógnita. Em princípio, o prognóstico é de que oscilará entre 44,10% e 44,60%.
Apesar dessa incerteza, esta semana o BC terá de continuar ajustando a URV para cima. Mas deve fazê-lo só a partir de quarta-feira, pois até o dia 18 tabelou o over em 54,36%.
Não irá vacilar se os índices forçarem a alta, pois já deu provas suficientes de que persegue juros reais confortáveis, de 2,74% no over-selic e de 2,95% no CDI em maio. A rota do juro real só é de alta. O compromisso solene do juro real alto tende a ser reforçado em junho.
A maioria das instituições já opera com a expectativa de um juro de 4% acima da URV no mês que vem. Na reta final da nova moeda, o BC precisará abortar a impressão de que as aplicações financeiras terão perdas na passagem do dia 30 de junho para 1º de julho.
Terá de contrapor um juro real inquestionável às análises de que os ativos irão ignorar o resíduo da inflação passada. Esse sentimento de perda resulta de um efeito estatístico, não é real.
O IGP-M de julho, mesmo com os preços zerados a partir do dia 12, carregará uma inflação pretérita entre 15% e 25%, decorrente da metodologia que compara a média dos preços de um mês com a média registrada no anterior.
Quem está posicionado no CDI-over recebe remuneração diária com base na inflação também diária mais um juro real, no caso de maio de 0,13% ao dia. O desmoronamento do ganho nominal se dará em função da queda abrupta da inflação.
O rendimento de uma aplicação no CDI cairá de 2,14% no dia 30 de junho –supondo-se inflação de 50%, juro real de 4% e ganho efetivo do CDI de 56%– para 0,23% (inflação zero e juro real de 5%) em 1º de julho.
Este efeito da inflação velha não precisa, portanto, ser temido. O fim da correção monetária na nova moeda, este sim deve ser temido. Para que não haja uma corrida aos ativos reais, o juro real deve superar as expectativas quanto à inflação nova, a que começará a ser medida a partir de 1º de julho.

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