São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Ambientalismo vira profissão

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Militantes barbudos, dispostos a arriscar a vida para "salvar o planeta", denunciando o capitalismo "predatório".
Essa imagem do ecologista formada nas décadas de 70 e 80 mudou, pelo menos na cúpula do movimento.
"Nós estávamos numa cruzada e não tentando forjar uma carreira. Hoje trabalhar para o Greenpeace é tão respeitável quanto trabalhar para a IBM", diz o ambientalista Pete Wilkinson.
Wilkinson é fundador da Friends of Earth (Amigos da Terra), uma das maiores organizações ambientalistas de todo o Reino Unido.
Ele lançou um livro de memórias na semana passada, em que reuniu boa parte dos pioneiros da militância verde britânica.
Muitos viraram verdadeiros burocratas ecológicos.
Wilkinson revela em seu livro ("Warrior: one man's enviromental crusade") que o primeiro "atentado ecológico" da Friends of Earth foi uma fraude.
Há 23 anos, a organização despejou 2.000 garrafas vazias de água tônica Schweppes diante da fábrica, em protesto contra a sociedade do desperdício.
Na época, o fabricante havia acabado de suspender o pagamento de depósito em troca de garrafas vazias.
A Friends of Earth queria mostrar que milhares de garrafas em perfeito estado estavam sendo simplesmente jogadas no lixo por causa disso.
Mas, revela agora Wilkinson, a maior parte das garrafas exibidas diante das câmaras da imprensa havia sido comprada pela Friends of Earth.
Depois, as garrafas foram esvaziadas especialmente para o protesto.
"Nós nunca sonharíamos em fazer isso hoje. Eles tiveram sorte, tudo era ainda novidade", diz Charles Secrett, diretor da Friends of Earth.
"Agora isto é um negócio muito sério e os riscos são muito maiores", conclui o ambientalista.
(SM)

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