São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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EUA devem subir juro para fortalecer o dólar

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O comportamento das moedas fortes na semana passada indica que uma nova alta dos juros nos Estados Unidos pode ser iminente. Seria má notícia para o Brasil.
Na quarta, o Banco Central da Alemanha cortou sua taxa de juros para o nível mais baixo em cinco anos. Nem assim o dólar, que já vinha desvalorizando, reagiu.
A alta do dólar resultaria da maior demanda pela moeda americana, provocada pelos investidores que, desestimulados pelo juro baixo, venderiam seus marcos.
A demanda pelo dólar, no entanto, não se materializou. Para o investidor, não basta o marco estar desinteressante. É preciso também que o dólar esteja atraente.
Dólar atraente é aquele cuja posse dá acesso a uma rentabilidade maior do que a proporcionada por outras moedas fortes. O que não é o caso do dólar atual.
No mercado financeiro mundial, o dinheiro que se realimenta de renda pula a cerca sempre que a moeda do vizinho é mais verde. É como o dólar deverá ficar.
Isso pode acontecer já na terça-feira, quando a diretoria do banco central dos EUA se reunir para decidir se aumenta os juros dos fundos federais.
Esses fundos são títulos que lastreiam os empréstimos de um dia para o outro entre bancos. São também o mais observado sinalizador da tendência do mercado.
Após longa estabilidade, os juros dos fundos federais subiram duas vezes recentemente: em fevereiro e em abril, passando de 3% para os atuais 3,75% ao ano.
A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa pelo menos bata em 4%. Com isso, os Estados Unidos esperam conter a desvalorização de sua moeda.
Os juros mais elevados teriam também o efeito de desacelerar a economia, contendo futuras pressões inflacionárias.
O governo americano prefere a profilaxia quando se trata de combater a inflação. Estão preocupados desde agora, quando a taxa é de 2,4%. Ao ano.
Na Alemanha, o problema é o oposto. O país está em recessão e o corte nos juros é uma tentativa de impulsionar a economia.
Em abril, por exemplo, as vendas de carros caíram 13%, comprometendo a frágil recuperação do mercado automobilístico.
Ao cortar os juros em meio à crise do dólar, o Bundesbank (banco central alemão) tentou fazer o menor estrago possível para o marco. Foi bem-sucedido.
O Fed (banco central dos EUA), no entanto, não tem tradição de uma política monetária passiva e é provável que, mais dia, menos dia, a intervenção virá.
Essas circunstâncias –se efetivamente desembocarem em alta de juros– não beneficiariam o Brasil, que perderia com o rearranjo do fluxo internacional de capitais.
Mais bem remunerados no país emissor, os dólares teriam mais uma razão para não migrar para cá –além da desconfiança em Lula e da aversão a regras que discriminam o capital estrangeiro.
Foi esse conjunto de fatores, aliás, que derrubou a Bolsa de Valores recentemente, neutralizando os ganhos que haviam sido acumulados desde o começo do ano.
O Brasil não está sozinho no infortúnio. Fazem-lhe companhia praticamente todos os chamados mercados emergentes, ainda que sem os agravantes domésticos.

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