São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Perigosa distância

Com a definição do esquema para conversão dos preços de combustíveis à URV, na última semana, finalmente vai chegando ao fim a segunda etapa da reforma monetária. Era a última tarifa que faltava.
As dúvidas quanto às condições de adoção da nova moeda, entretanto, continuam –e, mais uma vez, são alimentadas pela própria equipe econômica. O aspecto central da estabilização –as regras para a taxa de câmbio– continua incerto. O diretor da área internacional do Banco Central, Gustavo Franco, declara que a relação entre o dólar e o real "provavelmente será de um para um", acrescentando que essa taxa será fixa "nos primeiros dias", possivelmente adotando-se o sistema de "bandas" depois. Essa linguagem imprecisa parece um sintoma de que, afinal, nem mesmo a equipe que conduz o plano chegou a um consenso.
Outros aspectos parecem fragilizar o contexto no qual se aproxima o Dia D do real. A começar pela incapacidade de votar no Congresso a MP que criou a URV. Prolongou-se na semana passada o impasse diante da bancada ruralista, que cobra em troca de seu apoio medidas favoráveis ao setor. As pressões contra a probição de reajustes em contratos de menos de 12 meses, proposta na mesma MP, também dificultam o curso do plano.
Do ponto de vista estritamente econômico, outras preocupações começam a vir à tona. Em primeiro lugar, o próprio ministro Ricupero alerta para uma inevitável, ainda que "pequena", inflação logo após a introdução da nova moeda. Se de um lado é sempre bom temperar as expectativas, evitando a ilusão de se perseguir uma "inflação zero", de outro, não há como abafar a dúvida sobre quão pequena afinal será essa inflação, ou mesmo se ela depois cairá, necessariamente.
Quanto aos preços, em abril houve algum alívio com a entrada da safra e nos bens de consumo, com uma sensível queda na procura. Mas a partir de maio os dados da Fipe já mostram pressões crescentes nos preços de vestuário. E no fim do segundo trimestre a entressafra agrícola já se fará sentir.
Os desafios à frente portanto não são pequenos. Há uma distância entre o que se planejou e o que se vai conseguindo, na prática. O maior desses desafios é impedir que essa diferença abale o desejo de lutar para que esse programa de estabilização tenha bons resultados.

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