São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Quanto custa um idiota

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Baseado em relatórios de seus agentes, o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, almirante Cesar Flores, comentou ontem que a violência no campo está cada vez mais explosiva virando uma questão de segurança nacional. Mas é apenas um detalhe da crise social. Traduzindo: qualquer presidente vai sentar num barril de pólvora. É urgente um pacto dos candidatos.
Se eles estão mesmo preocupados com o país como dizem, os candidatos devem se comprometer a ajudar o futuro presidente a governar, apoiando dentro e fora do Congresso a estabilização econômica. Suponha-se que vença Luiz Inácio Lula da Silva ou Fernando Henrique Cardoso: ambos terão gigantescos desafios.
Estarão diante de pressões do funcionalismo público, reforma agrária, melhoria salarial, empregos, investimentos em educação e saúde –tudo isso com um orçamento apertado e uma Constituição estragulando os cofres federais.
Previsível, portanto, uma onda de frustração a ser detonada em pouco tempo de mandato do novo presidente –e quanto mais os candidatos prometerem como se tivessem uma varinha, maior e mais rápida será a frustração. O risco é agravar a desconfiança na democracia como um instrumento de melhoria de vida.
Caso Lula vire presidente, terá minoria no Congresso. Vai conquistar pouquíssimos governos estaduais –isso se ganhar algum. Ele entra com a desconfiança dos empresários e, ao mesmo tempo, a feroz cobrança de seus aliados por reformas imediatas, melhoria dos salários, mais gastos sociais. Pior: atormentado pelos "malucos" do seu partido, usando a expressão da economista Maria Conceição Tavares, do PT.
Em essência, os desafios de Fernando Henrique Cardoso não serão diferentes: terá de administrar com poucos recursos a dívida social sem estabilidade econômica. E também vai ter de gastar parte do tempo cuidando dos seus "malucos", aqueles que enlouquecem quando estão em jogo cargos.
Estamos chegando a um ponto em que a seriedade e despreendimento público já não são mais uma questão ética, mas de bom senso e instinto de sobrevivência. Se não houver pacto do bom senso, o resultado será o pacto dos idiotas.

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