São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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FBI na Copa; Elis Regina; Doação de sangue; Ajuda de Bardot

FBI na Copa
"As reportagens e comentários da Folha criticando a colaboração do FBI no processo de credenciamento dos jornalistas escalados para cobrir a Copa do Mundo nos EUA deram uma idéia errada ao público sobre o tratamento que será dispensado à imprensa. O editorial `FBI na Copa' (16/04), por exemplo, diz que as fichas que os jornalistas teriam de preencher `autorizariam o FBI a investigar seus antecedentes e devassar suas fichas criminais' e que poderiam, em consequência, ocorrer `violações ao direito de privacidade e mesmo a criação de obstáculos para o trabalho da imprensa'.
O credenciamento não abrangerá apenas os jornalistas. Com exceção dos torcedores e do pessoal de segurança, todas as pessoas que tiverem acesso aos estádios e eventos colaterais –jogadores, juízes, vendedores de sanduíche, faxineiros etc., qualquer que seja sua nacionalidade– passarão pelo mesmo processo. O objetivo não é, necessariamente, eliminar quem tenha ficha policial, mas identificar pessoas que possam constituir-se em ameaça à segurança do campeonato.
A responsabilidade pelo processo de credenciamento é da Fifa, que pediu a colaboração do FBI e dos órgãos policiais das cidades onde haverá jogos. Os requisitos para credenciamento foram estabelecidos pelo comitê organizador, não pelo governo dos Estados Unidos. Entre eles, há um pedido para que o solicitante da credencial autorize a polícia a fornecer ao comitê informações sobre seus eventuais antecedentes criminais. A lei de privacidade dos EUA proíbe o fornecimento de informações pessoais, sem o consentimento prévio do indivíduo sob investigação. O `waiver' é essa autorização.
Não há nenhuma indignidade nesse consentimento para que o comitê organizador da Copa do Mundo dos EUA possa ter acesso a informações sobre as pessoas que vão trabalhar no evento, se tais informações existirem. Na grande maioria dos casos, elas não existirão em órgãos policiais norte-americanos. Mas, como haverá centenas de milhares de pessoas envolvidas na Copa 94 em diversas partes dos EUA, é preciso cautela. O fim da `guerra fria' não significou o desaparecimento do perigo do terrorismo. Segundo recente relatório do Departamento de Estado dos EUA, houve 427 ações terroristas no mundo em 1993 –incluindo o ataque ao World Trade Center, em Nova York. Foram 364 incidentes a mais do que em 1992. A Fifa, como organizador, e os Estados Unidos, como anfitrião, querem garantir que o campeonato seja o mais seguro possível. Na verdade, o item segurança é a maior despesa do orçamento da Copa.
O processo de credenciamento para a Copa é rotineiro em qualquer grande evento que se realize nos Estados Unidos. Não é uma `autoritária medida norte-americana', não coloca os jornalistas como `suspeitos e criminosos em potencial', não viola a privacidade e não cria obstáculos para o trabalho da imprensa, como disse o editorial acima citado. Os repórteres que cobrem a Casa Branca, o Pentágono e o Congresso dos EUA aceitam tranquilamente passar por uma investigação muito mais rigorosa do que a de seus colegas que vão cobrir a Copa. Nos EUA, continua valendo o princípio de que todos são inocentes até prova em contrário. A privacidade e outros direitos individuais são garantidos por lei, exercitados e defendidos todos os dias. E a liberdade da imprensa é um dos pilares básicos da nossa democracia. Tudo isso vale, em nosso território, não só para nossos cidadãos mas para todos os que nos honram com sua visita."
Phillip T. Parkerson, adido de imprensa do Consulado dos Estados Unidos (São Paulo, SP)

Nota da Redação – A Folha mantém os termos do editorial criticado. A medida imposta aos jornalistas como condição para o credenciamento na Copa do Mundo transforma cada um deles, injusta e abusivamente, em potencial suspeito de terrorismo. Somente o direito dos leitores de terem amplo acesso a informações relevantes para a opinião pública brasileira levou a Folha a deliberar, ainda que sob protesto, por submeter-se à exigência descabida.

Elis Regina
"Fiquei realmente impressionado com a crueldade e o despeito demonstrados por Luís Antônio Giron no artigo `Elis Regina soa fora de moda em CD'. Ao dizer que Elis Regina tenha que ser lembrada como `uma intérprete que perdeu o rumo' e que `em nada contribuiu para o progresso das artes', ele demonstra incrível ignorância na arte em que analisa. Como um `crítico de música' pode dizer isso de alguém que lançou nada menos que Ivan Lins, Milton Nascimento, Belchior, João Bosco, Jorge Ben Jor, entre outros? Como dizer isso de alguém que a cada novo disco inovava em termos de impostação de voz, leitura musical, interpretações? Admite-se que não se goste de um artista como Elis ou qualquer outro, por falta de afinidade musical, antipatia pessoal etc., mas é impossível que alguém com a menor sensibilidade musical não tenha percebido isso."
Luís Delphim Esteves (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Luís Antônio Giron – Escrevi que Elis Regina não conseguiu se conservar à frente dos movimentos musicais transformadores da MPB. Veio depois da Bossa-Nova e antes do Tropicalismo. Aprendeu pouco da primeira e nada do segundo. Nesse sentido, perdeu o rumo.

Doação de sangue
"Com referência à reportagem publicada na Folha do dia 13/05 sob o título `Pró-Sangue muda critério de doação', subtítulo `Fundação reconhece exagero de cuidados e agora permite doação de usuários de maconha', a direção da Fundação Pró-Sangue tem os seguintes comentários a fazer: 1) os critérios de doação exigidos pela fundação continuam rígidos –como sempre o foram– incorporando à norma nacional outros critérios baseados nas normas científicas e procedimentos adotados em outros países que apresentam problemas semelhantes ao nosso (normas da Associação Americana de Bancos de Sangue) garantindo à população de São Paulo sangue de boa qualidade; 2) a fundação segue estritamente a norma técnica em vigência no país, publicada no "Diário Oficial da União", de dezembro de 1993; 3) o subtítulo dá a impressão de que qualquer usuário de maconha pode doar sangue, fazendo-se uma apologia para que pessoas deste grupo passem a ser doadores. Isto é uma inverdade, já que a fundação não aceita viciados em drogas, seja maconha ou outras. O que se aceita hoje em dia é sangue de doadores que, no passado, e de modo eventual, experimentaram o uso de drogas não injetáveis. De todo modo, qualquer doador deverá ser submetido à rigorosa triagem clínica e sorológica onde se descarta a presença do vírus da Aids (anti-HIV), da leucemia e linfomas de células T (anti-HTLV1), vírus das hepatites B e C, doença de chagas e sífilis. Nossa função, e da qual não abrimos mão, é a de não colocar em risco aquele que receberá sangue; 4) sendo a Folha um respeitado jornal, julgamos que a reportagem elaborada pela jornalista Patrícia Decia foi infeliz. O intuito era fazer uma reportagem para aumentar o número de doações e com isso evitar a falta de sangue nos hospitais públicos de São Paulo. A citada jornalista enfatiza questão menor, contrária ao espírito de ajudar a captação de mais sangue para aqueles que dele necessitam."
Dalton Chamone, diretor-presidente da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo (São Paulo, SP)

Ajuda de Bardot
"Chovam torrentes de bênçãos dos céus sobre a cabeça da atriz francesa Brigitte Bardot, que escreveu ao presidente Itamar pedindo ao governo brasileiro para proibir, em todo o território nacional, a prática da chamada `farra do boi'!"
Lindolfo Xavier da Silva (Uberlândia, MG)

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