São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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EUA alertam para risco doméstico do HIV

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS E DA REDAÇÃO

Autoridades sanitárias dos EUA lançaram ontem uma advertência para o perigo de contágio pelo vírus da Aids (HIV) em casa, através do contato com doentes.
Embora sejam muito raros, dois novos casos de transmissão doméstica do HIV foram relatados pelos CDC (Centros para Controle de Doenças) dos EUA.
No primeiro caso, uma mulher idosa pegou o vírus cuidando de um filho adulto infectado.
No outro, mais recente, um menino de cinco anos pegou o vírus da mãe ou pela escova de dentes ou por contato com feridas.
"Ambos os casos ilustram o potencial de que o HIV seja transmitido no tratamento em casa", disse Harold Jaffe, diretor da divisão de Aids/HIV dos CDC.
Os dois novos casos podem ser os primeiros em que a doença foi claramente transmitida através de contatos ocorridos durante o tratamento ministrado em casa.
O contágio ocorreu aparentemente porque não foram seguidas as precauções recomendadas.
"É um problema em expansão, pois cada vez mais pessoas recebem pelo menos parte do tratamento em casa", afirmou Jaffe.
O caso da mulher idosa foi o primeiro a acontecer.
A mulher, de 75 anos, fez o teste para detecção do vírus da Aids em 1991, um ano depois que seu filho morreu da doença. O resultado foi positivo.
"A mulher idosa não tinha outros fatores de risco. Ela apenas tratou de seu filho", disse Jaffe.
Segundo a autoridade, ela não usava luvas o tempo todo.
"Ela foi exposta a urina e fezes. O filho sangrou algumas vezes, e ela pode ter sido exposta ao vírus pelo sangue", disse Jaffe.
Para ele, os casos ilustram a falta de instrução adequada da parte dos médicos.
"É dito às famílias: `Leve essa pessoa para casa. Você vai ter que dar banho, talvez trocar fraldas.' Mas não há muita instrução além disso", disse Jaffe.
No caso mais recente, o menino de cinco anos havia feito exames para verificar se era portador do HIV em 1990 e em julho de 1993.
Em ambos os exames os resultados foram negativos. Em dezembro passado, ele fez novo exame e o resultado foi positivo.
Seu pai, que também era portador, morreu em virtude da Aids há um ano, mas a criança continuou vivendo e dormindo com a mãe.
Algumas vezes, o garoto usou a mesma escova de dentes que a mãe, que tinha sangramentos na gengiva.
"Nesse caso o meio de transmissão foi bastante claro", disse Jaffe.
"A mãe segurava bastante a criança, e o vírus pode ter sido transmitido por lesões na pele. As gengivas sangravam, mas ela ainda partilhou a escova de dentes."
Além dos dois novos casos, houve seis relatos de possível transmissão doméstica do HIV desde 1986 nos EUA.
Os episódios de transmissão da Aids em casa são raros, garantem os médicos.
"O HIV sobrevive não mais que poucos minutos quando está em contato com o ar", diz Adauto Castelo Filho, da Escola Paulista de Medicina.
"Em sangue ressecado, a chance de sobreviver é praticamente nula".

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