São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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Médicos recomendam tratamento em casa

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os pacientes de Aids devem ser tratados como um doente comum. A maioria dos cuidados a serem observados são "normas de biosegurança internacionais" que valem para todas as pessoas, doentes ou sadias.
Entre os cuidados está o uso de luvas quando se lida com sangue com ou secreções. E o não compartilhar de objetos íntimos, como barbeador e escova de dentes.
"O risco de contágio no dia-a-dia é excepcional, mas não é zero. Por isso vale reforçar os cuidados higiênicos", diz o médico João Silva Mendonça, diretor do Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual.
Há uma outra razão para que os cuidados sejam estendidos a todas as pessoas: o Ministério da Saúde estima em 500 mil pessoas o número de portadores do vírus da Aids no país. Mais de 350 mil não sabem que estão infectadas.
No Estado de São Paulo há cerca de 12 mil doentes de Aids morando com suas famílias ou em casas de apoio. Eles só são internados quando em estado grave. "O conforto e os cuidados da família são fundamentais na sobrevida do paciente", diz João Mendonça.
No mundo todo, a tendência é manter o doente fora dos hospitais e o mais próximo da família. O acompanhamento e a medicação são ambulatoriais, feitos nos hospitais-dia. Vários estudos mostram que a qualidade de vida do paciente melhora quando junto da família.
A médica Marinella Della Negra, responsável pela unidade de Aids em crianças do Hospital Emílio Ribas, diz que as internações são as mais curtas possíveis.
"Preferimos que a criança continue sendo medicada pela família", diz. "O resultado é sempre melhor."
Quando o paciente é mandado para casa, os familiares são instruídos sobre os cuidados que devem tomar no dia-a-dia. Segundo Marinella, os pais ou parentes são informados sobre "normas que valem para qualquer paciente".
Na Casa Vida, onde vivem 23 crianças soropositivas e doentes de Aids, os "cuidados são os mais simples", diz irmã Piera, uma das coordenadoras. "Se uma criança se corta, lavamos o local e colocamos esparadrapo. As tias e enfermeiras usam luvas."
As crianças dormem no mesmo quarto e não são impedidas de trocar abraços e beliscões. Algumas delas não são soropositivas. "Usamos copo descartável para evitar sapinho, não a Aids", diz irmã Piera.
A possibilidade de contágio pode ser remota, mas o medo existe. No Hospital Emílio Ribas, o quadro de enfermeiros e auxiliares de enfermagem nunca está completo.

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