São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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Bi paulista ainda é pouco, muito pouco

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro turno do Paulistão-94, depois de um São Paulo, 2, Palmeiras, 1, escrevi neste espaço que o campeonato começava ali, que para o Palmeiras ser campeão precisava daquela derrota. E escrevi que o Palmeiras seria campeão.
Por quê? De onde a convicção, além do fanatismo do torcedor, quem, aliás, achava que o adversário merecera vencer o jogo? Da percepção, óbvia, diga-se, menos para o mais fanático, que o Palmeiras tinha mais reservas que o São Paulo para um campeonato longo como o Paulista. Como o Palmeiras depois daquela perdeu outras, pareceu que o vaticínio falhara. Pareceu.
Deu no que deu. Depois de Pearl Harbour, a derrota norte-americana no dia 7 de dezembro de 1941, chegou o dia de Midway, a vitória norte-americana, sete meses depois (retomo a parábola histórico-militar porque acho que ela tem sentido, mesmo sabendo que analogias são perigosas). Midway marcou o "fim-de-fato" da guerra, mas ela não acabou lá.
Explico. Depois da aniquilação da frota de porta-aviões, não havia mais como o Império Japonês vencer um adversário com reservas muito superiores, e qualquer pessoa bem-informada sabia disso. Mas a guerra, mesmo assim, durou mais três longos anos.
Os EUA eram "melhores". Tinham mais navios, aviões, munições, soldados. Venceram e continuaram vencendo. Não se descuidaram. Mas como, evidentemente, a guerra não termina nada, já se preparam para vencer no pós-guerra. O que estava em jogo depois da batalha vencida já era o dia depois do fim da guerra, quem ficaria com o que, como dividir o mundo etc. etc. etc. A história não acaba nunca.
O mesmo raciocínio vale aqui, mantidas as proporções. O Palmeiras é bi. E daí? O alvo é Tóquio. Para Tóquio falta muito. Muito mesmo. Falta, para variar, ganhar do São Paulo, no segundo jogo na Libertadores.
Aliás, só podia ser o São Paulo, porque os dois, o Tricolor e o Palestra são hoje, os únicos times quase-modernos no futebol brasileiro. Quase-modernos, que para modernos também falta. No caso do Palmeiras, por exemplo, falta um estádio decente, coberto, com cadeiras numeradas, telões. Um salto que permita passar do futebol do século 20 para o do século 21, jogar fora a estrutura-CBF, o futebol que olha pra trás.
Se vencer o São Paulo, aí começa o pior. Conheço alguns times latino-americanos. Não perdem nem em jogo de palitinho, se deixarem. Não jogam nada, mas brigam até o fim. O Velez, da Argentina, por exemplo. Normalmente, não ganha do Palmeiras nem jogando com 22 e toda a comissão técnica. Mas numa final da Libertadores, lá... É guerra.
Passando pelo São Paulo –sombra do que foi, mas ainda perigoso– e pelos latinos vários, o Palmeiras ganha um título nunca ganho. E aí, aí vem o pior. Terá de ganhar do Milan, que massacrou o Barcelona, e massacraria mais 10, 20 vezes se fosse preciso, porque tem mais time.
Suponhamos que o Palmeiras vença todas. Ganhe do Milan. Seja campeão do mundo. Aí começa tudo de novo. Vão querer o bi mundial, o tri paulista, o tetra, o penta. Esse é o perigo da vitória. É vício. Acostuma mal. Lembre-se, leitor: não faz muito, o Santos ganhava tudo. Agora, está há dez anos na fila.
Resumo da história: ganhar o campeonato faz bem, mas dura pouco. Criar um estilo, um time inesquecível, uma marca, é melhor, mas também dura pouco. Valeria agora que o Palmeiras tentasse mudar a estrutura do futebol por aqui. Isso já não seria pouco. Além, é claro, de Tóquio.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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