São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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França fracassa de novo com `Os Patriotas'

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Os Patriotas", a última aposta francesa na competição de Cannes-94, confirmou ontem a paralisia criativa da produção nacional.
Em seu terceiro longa, o jovem Eric Rochant, 33, homenageia os romances de espionagem de John Le Carré. Viajou muito (Tel Aviv, Washington e Paris são as principais locações), mas não foi muito longe.
"Os Patriotas" conta a história do engajamento de um jovem francês de origem judaica no serviço secreto israelense. Duas de suas principais missões, envolvendo armas nucleares e um espião duplo americano, ocupam o filme todo.
"Os Patriotas" é assim um filme de espionagem sem tensão e desprovido de humor. Egresso de dramas existenciais como o cult "Um Mundo Sem Piedade" e o irregular "Aos Olhos do Mundo", Rochant não teve fôlego para tão radical guinada.
Seu ator-alter-ego, Yvan Attal, praticamente repete aqui, sob o nome de Ariel, o mesmo personagem desenraizado e solitário dos filmes anteriores, mas jamais convence muito como um colega de profissão de Smiley ou Bond.
O fracasso de "Os Patriotas" rima com o de "A Rainha Margot", o outro filme francês apresentado em concurso.
Tenta-se hoje forjar uma espécie de Hollywood à francesa, apostando em custosas produções que abraçam gêneros populares e buscam o sucesso dentro e fora das fronteiras.
Nem autoral, nem ligeiro, nem francês, tampouco cosmopolita, este tipo de produto de laboratório consome sessão após sessão as expectativas internacionais quanto ao restabelecimento de um pólo criativo na pátria de Méliès, Renoir e Truffaut.
Um claro sinal deste beco sem saída veio a luz em Cannes, com o contraponto entre a recuperação interna do mercado fílmico francês e a péssima acolhida da nova safra pela crítica internacional.
O orçamento médio girou em torno de US$ 3,5 milhões. Foram produzidos 12 filmes a menos que em 92, totalizando 101 títulos. Destes, 61 foram obras de estreantes.
Esta percentagem foi o suficiente para que o diário parisiense "Libération" lançasse uma coluna diária durante o festival perguntando aos jovens realizadores se acreditam fazer parte de uma nova "nouvelle vague".
A insignificante repercussão da enquete, em consequência do impacto quase nulo dos primeiros filmes dos entrevistados, reafirma a sensação de desgoverno do cinema francês –e de seus comentadores mais próximos.
Em compensação, o mesmo "Libé" publicava ontem curiosa reportagem que resumia a sucessão de críticas negativas que as produções francesas recentes têm recebido da crítica internacional. Nunca é tarde para abrir os olhos.

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