São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Humilhação de perdedores é praxe

MARCELO DE SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os domingos, em "Topa Tudo por Dinheiro", Silvio Santos grita para a platéia: "Quem quer dinheiro?". Moto contínuo, atira para o alto notas de Cr$ 5 mil, Cr$ 10 mil e Cr$ 50 mil. A frase contém a mesma ilusão que leva exércitos às salas de inscrições dos game-shows no ar hoje: dinheiro fácil.
A sofreguidão com que a platéia do dominical comandado por Silvio Santos –o segundo game-show mais visto da TV brasileira, depois de "Domingão do Faustão"– se atira sobre o dinheiro é, também, exemplar. Quem quiser ganhar prêmios na TV vai ter que disputá-los à sorte ou a muitos adversários, em situações que vão do ridículo à beira da violência.
As provas do "Domingão do Faustão" são exemplo. Como suas similares norte-americanas, ou sua versão SBT –que preenchem outro dominical, "Hot Hot Hot"–, são quase impossíveis de serem cumpridas, além de perigosas. Não é raro que nenhum concorrente chegue ao objetivo –como, por exemplo, acertar um alvo com um bastão, com os olhos vendados, imediatamente após uma sessão de rodopios de deixar qualquer um (muito) tonto.
A quem erra, resta a humilhação –o apelo dos game-shows. Para ganhar os prêmios do "Topa Tudo Por Dinheiro", a platéia se suja, dança sem saber dançar, canta sem saber cantar, se arrisca a levar um banho em público.
O programa chega a humilhar desavisados. As vítimas do quadro "Câmera Indiscreta" são colocadas diante de uma situação absurda –como um bebedouro público que dá leite em vez de água– e têm suas reações exibidas na TV. Esclarecida a gracinha, recebem cachês que chegam, hoje, a Cr$ 100 mil.
No "Domingo Legal" –game-show do SBT comandado por Gugu Liberato–, atores e atrizes, convidados para uma grande gincana, se dispõem, entre outras "penalidades", a receber uma torta na cara.
O clima de humor algo selvagem predomina nos programas que distribuem prêmios do SBT –à exceção de "Porta da Esperança", que faz caridade melodramática –e da Globo, que pode ter Xuxa no comando de um novo programa de jogos no segundo semestre.
A Bandeirantes entrou na farra há pouco menos de um ano, com "Supermarket" (leia texto à página 13). O programa acrescenta um dado novo ao circo: enquanto põe suas duplas para brigar freneticamente por US$ 4 mil, vende o nome de inúmeras marcas de produtos de supermercado.
A rede estréia em breve dois game-shows que lembram os tempos mais românticos do gênero. Daniel Filho comanda um jogo de conhecimentos gerais –uma espécie de "O Céu É o Limite" modernizado. Fecha o pacote um game de encontros amorosos.

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