São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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'Esse governo é uma nulidade'

LUCIO VAZ

LUCIO VAZ; MÁRIO SIMAS FILHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MÁRIO SIMAS FILHO
O candidato do PMDB a presidente, Orestes Quércia, diz que o país precisa de "alguém que mande": "Nós vamos fazer um governo que vai mandar neste país."
Segundo Quércia, hoje o Brasil não tem comando: "Esse governo que aí está é a expressão maior da nulidade em termos de governo."
O ex-governador defende o afastamento do PMDB do governo Itamar Franco e afirma que o plano econômico é apenas "um indexador da nossa moeda ao dólar".

Folha - Líderes do PMDB se opõem à sua candidatura. Como manter o partido unido?
Quércia - Vamos lutar pela unidade. O importante é que a base do partido mostrou, na prévia, que apóia minha candidatura. Ganhei em Santa Catarina, na base do Luiz Henrique. Com o Requião a coisa é mais complicada, mas vamos fazer a campanha pelas bases. O mesmo no Rio Grande do Sul. Vou lá, o que posso fazer, subo no meu palanque.
Folha - O sr. critica a falta de experiência administrativa dos seus adversários. Mas a candidata a vice na sua chapa nunca exerceu um cargo público.
Orestes Quércia - Ora. O Lula também não tem curso superior e o Machado de Assis também não tinha. Nem por isso deixou de ser o maior escritor da história do Brasil. É uma mulher competente, muito mais do que os dois adversários nossos. Uma dona-de-casa, uma mulher que acompanhou o marido, tem liderança em Goiás. Tem uma ação política formidável, uma ação na área assistencial formidável. Considero ela competente para assumir a Presidência.
Folha - A Folha tem informações de que o senador Sarney teria fechado um acordo com Fernando Henrique. Isso preocupa?
Quércia - Não acredito nesta informação da Folha, com todo o respeito que eu tenho para com a Folha. De qualquer forma, quando nós tivermos uma declaração clara do presidente Sarney... tudo bem. Se ele achar... Mas eu acho que ele não vai fazer isso.
Folha - O sr. vai defender o fim do apoio ao governo Itamar?
Quércia - Eu acho que não tenho outra alternativa. Sei que esta questão écomplicada para o partido, que já está há muito tempo apoiando o governo. Os companheiros nossos têm cargos no governo. Isso é difícil de se tratar. Agora, é preciso se tratar do assunto, porque o governo tem um candidato a presidente, apóia um candidato. E nós temos outro candidato. É uma convivência politicamente impossível. A minha campanha vai ser uma campanha contra o governo, de oposição ao governo.
Folha - O Superior Tribunal de Justiça está analisando a representação contra o senhor no caso das importações irregulares.
Quércia - Eu que pedi para apressar, porque esta coisa é de politiquice. Gostaria que isso fosse resolvido o mais rápido possível.
Folha - A sua campanha será centrada nas grandes cidades ou vai partir do interior, como tem feito o candidato do PT?
Quércia - Vou percorrer o interior, que sempre foi o meu estilo. Sou municipalista, o meu plano de governo se baseia muito no fortalecimento do muncicípio. Vou fazer reuniões regionais do partido, começando por São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Depois, nos 60 dias finais, quando tivermos a campanha no rádio e na televisão vou começar os comícios. O importante é a mensagem que vou levar em cada lugar. É uma mensagem de crença no Brasil, de crença no desenvolvimento do Brasil, de necessidade de comando. O Brasil não tem comando. Esse governo que aí está é a expressão maior da nulidade em termos de governo, em termos de decisão, em termos de comando. Este país precisa de alguém que mande. E nós vamos fazer um governo que vai mandar no país, vai promover o desenvolvimento, estabelecer o progresso.
Folha - Se for eleito, os senhor vai pegar um plano econômico em andamento. O que pode ser aproveitado deste plano?
Quércia - Esse plano não é bem um plano, é um indexador da nossa moeda ao dólar, para efeito de tentar segurar psicologicamente a inflação. Acho difícil que consigam resultados, porque estão se utilizando de maneira descarada do plano com objetivos eleitorais.
Folha - A sua convenção está sendo uma grande festa, muito organizada. Isso deve ter custado alguma coisa. Quanto custou? Quércia - Não sei. Eu não estou financiando. O partido é que está fazendo a festa. O que houve lá foi um pedido meu... e a Folha é muito rápida nestas coisas, disse que o Quércia estava fazendo uma festa. Eu apenas quis que alugassem o salão de baixo, porque tinham alugado só o de cima.
Folha - O senhor tem um orçamento de campanha?
Quércia - O Nildo Masini está vendo isso.
Folha - Será uma campanha muito cara. O sr. tem ao menos uma estimativa de custo?
Quércia -Não tenho estimativa de custo, mas será uma campanha franciscana. Estou acostumado a dificuldades de campanha. Os banqueiros, que sempre ajudam nas campanhas políticas, com certeza não vão me dar dinheiro. O candidato deles é o FHC.

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