São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Guerra das baleias recomeça no México

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa hoje em Puerto Vallarta, no México, a 46ª reunião anual da CIB (Comissão Internacional da Baleia). Mais um capítulo na interminável disputa em torno da caça ao maior mamífero do planeta.
São 40 os países-membros da CIB. Eles vão decidir se aceitam a proposta francesa de criar um "santuário" para baleias na Antártida, onde ficaria indefinidamente proibido matar os cetáceos.
Não há apenas baleias na pauta. Na cidade da costa oeste mexicana estará também em causa o grau de compromisso internacional com a noção de desenvolvimento sustentável (uso de recursos naturais compatível com sua regeneração).
Este conceito foi a grande vedete da Eco-92 e das propostas das ONGs (organizações não-governamentais). No caso das baleias, a mesma linha divisória separa –mas em campos trocados– os ambientalistas e seus adversários.
Nações como Japão e Noruega aparecem como os grandes defensores da sustentabilidade, ou seja, da retomada do abate. Recusam o santuário e querem acabar com a moratória (suspensão da caça) decidida pela CIB em 1982.
Austrália, Holanda, Nova Zelândia, Espanha, Reino Unido, EUA e o Brasil se alinham com os verdes na fileira conservacionista. Defendem a proposta francesa e a manutenção da moratória.
A briga é boa, e nem sempre muito diplomática. Em 1992, a Islândia –outra tradicional nação baleeira– retirou-se da CIB em protesto contra a moratória.
Japoneses, noruegueses e islandeses dizem que o próprio comitê científico da CIB admite a caça. Espécies como a minke (veja quadro) teriam crescido tanto que seria possível matar até 3.800 por ano sem ameaçar o estoque.
Esse número corresponde a 0,5% da população estimada. Pelos cálculos dos pesquisadores, tal cota permitiria estabilizar a população em torno de 72% da original.
O plenário da CIB deixou de acatar a recomendação do comitê científico por dois anos seguidos. Em 1993, em Kyoto (Japão), isso redundou em nova crise: o presidente do comitê, o britânico Philip Hammond, se demitiu.
A proibição de caça ao sul do paralelo 40o (veja mapa) significaria na prática a extensão dos efeitos da moratória às águas antárticas, regidas até agora por outro tratado, o Antártico.
É na Antártida que as baleias encontram seu alimento predileto, o "krill" (um primo do camarão). Em suas águas geladas o Japão captura 300 baleias por ano, com fins supostamente científicos.
Precisamente o "krill" rege uma proposta alternativa de santuário, que começaria mais ao sul. O Chile propôs semana passada que o santuário comece abaixo da zona de convergência antártica, faixa variável entre 54o e 62o em que o bicho é abundante.
"A convergência de fato determina um limite biológico mais preciso", diz o almirante Ibsen de Gusmão Câmara, 70, pioneiro do conservacionismo que foi delegado do Brasil nas reuniões da CIB em 1986 e 1992.

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