São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Candidatos tentam mudar imagem na TV

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique não vai mais falar difícil. Lula parecerá menos irado. E Quércia talvez evoque um professor ao discorrer sobre seu programa de governo.
A imagem que os candidatos à Presidência da República projetarão no horário eleitoral gratuito, que entra no ar em agosto, será bem diferente da que os telespectadores se habituaram a ver.
Apontado como elitista e acadêmico, Fernando Henrique Cardoso usará repertório de palavras mais acessíveis. "É necessário ajustar sua linguagem para a TV", afirma Geraldo Valter, coordenador de marketing do candidato do PSDB.
A "popularização" de FHC será um dos principais ingredientes da estratégia do candidato na mídia eletrônica. "Isso é necessário porque ele ainda é desconhecido por muita gente. Mas será feito sem artificialismo", diz Walter.
Já Luiz Inácio Lula da Silva, cujos discursos são caracterizados pelo tom inflamado, "vai em geral mais falar do que bater" nos programas, segundo afirma Markus Sokol, responsável pela campanha do candidato do PT.
"Não vamos entrar de salto alto", acrescenta Sokol. "Lula não vai responder a toda e qualquer provocação".
Também o virtual candidato do PMDB, Orestes Quércia, mais habituado aos microfones –começou a vida como radialista– não usará esse potencial em ataques.
Só deve aumentar o tom se tiver de enfrentar uma escalada de acusações dos rivais, de acordo com seus assessores.
"Na maior parte do programa, vai se concentrar em pontos de seu programa de governo", diz Nemércio Nogueira, coordenador de propaganda de sua campanha.
Preocupados com o rigor da legislação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que aprisionou os programas em estúdios, os publicitários temem queda de audiência e querem torná-los atraentes.
Disposta a estender a lei "até o limite do possível", a equipe publicitária do PT pretende transformar o estúdio em algo semelhante ao extinto programa do Chacrinha.
"Não se pode fazer comício, mas não há impedimento para programa de auditório com a presença de uma platéia de 50 a cem pessoas", diz Sokol.
É lógico supor, que tendo uma estrela ascendente da propaganda em seus quadros, o publicitário Nizan Guanaes, algo semelhante ocorra nos programas do PSDB.
"Vem surpresa aí, mas não espere uma Daniela Mercury", brinca Walter, ao se referir à cantora que protagoniza a campanha de cerveja criada por Nizan.
"Estou apaixonado pela candidatura de FHC e gosto de trabalhar assim", limita-se a declarar Guanaes, para quem propaganda política é outro departamento.
"A lei prejudicou Quércia, que tem um passado de obras para mostrar", disse Chico Santa Rita, produtor de seus programas de TV. Impedido de exibir cenas das obras, pretende esmerar-se na edição de slides e quadros computadorizados.
A estratégia de comunicação do candidato Leonel Brizola (PDT) é desconhecida. Segundo sua assessoria, ainda não foi escolhido um profissional para coordená-la.

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