São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Competição revoluciona setor têxtil

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sacudida pela recessão e pela abertura do mercado brasileiro às importações, a indústria têxtil, já considerada como uma das mais atrasadas tecnologicamente no país, foi forçada a mudar o seu perfil há dois anos.
"E vai levar mais uns três anos para ter nova cara", diz Roberto V. B. Prado, diretor da IEMI (Institutos de Estudos e Marketing Insdustrial), consultoria especializada em estudos do setor têxtil.
O estudo prevê que, até 1997, as confecções brasileiras estarão aptas a fazer sete bilhões de peças por ano –45% mais do que em 1989 e 20% mais do que o volume estimado para este ano, de 5,8 bilhões de peças.
O aumento previsto na produção, baseado na estabilização da economia com a entrada do real, não deve, no entanto, fazer crescer os números de fábricas ou de mão-de-obra.
Os sete bilhões de peças deverão ser confeccionados em menos de 15 mil fábricas espalhadas pelo país. Em 1989, eram 16,2 mil.
Os funcionários ligados diretamente à produção não devem passar de 1,15 milhão. Em 89, eram 1,24 milhão.
O número de peças produzido por funcionário deve crescer, no período, cerca de 54%. Pula de 3.888 peças (em 1989) para 6.000 peças anuais, no mínimo.
Na análise do IEMI, a indústria têxtil brasileira –leia-se toda a cadeia produtiva– ainda está no meio de um processo de profunda transformação.
Antes, o setor estava acostumado, por exemplo, a fechar o ano com altos lucros. "Na década de 80, a rentabilidade média das confecções era caso de polícia. Era de 30% sobre o faturamento líquido. Hoje esse número está próximo de zero", diz Prado.
O setor, afirma, que movimenta um mercado de aproximadamente US$ 35 bilhões anuais, deixa de ser caracterizado como usuário de mão-de-obra intensiva para ser usuário de capital intensivo.
Para Prado, pelo fato de as empresas estarem nas mãos de famílias, não conseguiram acompanhar a evolução das técnicas de administração e gerência.
Fora isso, também não estavam capitalizadas o suficiente para investir em modernização.
"Como o mercado era fechado, não havia qualquer preocupação para ganhar produtividade. Além disso, a inflação mascarava a ineficiência. Agora, caminhamos para a hora da verdade."
A consequência da mexida no mercado têxtil se vê até mesmo com as gigantes do setor, que há poucos anos pareciam intocáveis fortalezas.
Um exemplo típico foi a união da Alpargatas e da Santista, do grupo Bunge Brasil, no início do ano, para fazer índigos e brins.
Há outros exemplos que refletem as mudanças pelas quais passam as empresas do setor.
A família Barbéro, que fundou a Teba, especializada em linho, entregou no início do ano o controle acionário da empresa para o banqueiro Luiz Cezar Fernandes, diretor-presidente do Banco Pactual. A Teba chegou a deter 40% do mercado brasileiro de linho. No ano passado fechou com 9%.
Mais recentemente, a tradicional Vila Romana S/A, importante confecção de roupas masculinas, vendeu o controle acionário da empresa para o grupo americano Fellinvest Trust.
Na análise de Prado, cerca de 33% das 14,3 mil confecções em operação no Brasil são irrecuperáveis. Não chegam a despertar nem mesmo a atenção dos bancos interessados no ramo têxtil.
Segundo ele, mais 33% podem ser recuperadas com a injeção de recursos. "Só as outras 34% estão em excelente condições."
Para Prado, daqui a três anos a indústria têxtil estará em poder de investidores. "Serão poucas as que sobreviverão nas mãos das famílias."

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