São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Agora é fácil não mais subestimar os jovens

LUIZ SCHWARCZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dezesseis anos atrás eu conheci um jovem. Na época ele tinha 48 anos, uma editora na mão e uma idéia firme na cabeça: os jovens querem ler –os editores é que não sabem editar livros para eles.
Naquela época os jovens já tinham ido às ruas tentar apressar o fim da ditadura, lotavam reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (algumas proibidas pelo regime militar) para ouvir seus ídolos acadêmicos, e ao mesmo tempo, formavam filas de quarteirão para assistir os melhores filmes estrangeiros das mostras de cinema ou forçavam as portas do Teatro Municipal para tentar entrar em concertos eruditos de Stravinski ou mesmo numa difícil ópera de Alban Berg.
Ninguém, no entanto, a não ser o jovem editor de 48 anos, percebia que os jovens gostavam de ler bons livros.
Foi assim que teve início –nas livrarias– uma pequena revolução (se é que uma revolução pode ser pequena!): a edição da Coleção Primeiros Passos e as outras coleções de Bolso da Brasiliense –que até hoje devem ter atingido mais de 10 milhões de leitores jovens.
Agora é fácil não mais subestimá-los. Os jovens estão no mercado. São o alvo do marketing de vários produtos, entre eles, os livros.
Caio Graco, o jovem editor de 48 anos, com quem aprendi a minha profissão, morreu dois anos atrás em um acidente de moto. Fiel aos seus jovens e a sua juventude.
Saí da Brasiliense seis anos antes dele morrer. Representei lá sempre o lado mais conservador, careta e velho da empresa. Fazia a ele as perguntas da razão, as ponderações que por vezes podem ter ajudado ou empurrado a criatividade do Caio no caminho de sua realização.
Saí para editar na Companhia das Letras livros para um público que crescia, ficava mais velho.
Agora, com o lançamento do selo jovem da minha editora, não há como não lembrar do Caio Graco. Com imensa saudade.

O colunista MARCELO PAIVA está em férias.

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