São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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`Serpico' enquadra a corrupção na polícia

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

`Serpico' enquadra a polícia
Filme: Serpico
Produção: EUA, 1973, 130 min.
Direção: Sidney Lumet
Canal: SBT, 2h

"Serpico" é, primeiro, um filme de desajuste iconográfico: a figura de Frank Serpico não bate com a imagem que se tem de um tira. Dos cabelos às roupas e daí aos gestos, Serpico distingue-se dos colegas.
Distingue-se mais ainda pelo tipo de atitude que os separa. Ao entrar para a polícia, ele topa com um grupo absolutamente corrompido. Batalhará para que mude essa situação e será fácil ver a espécie e as dimensões da encrenca que arranja.
O filme busca sua credibilidade em dois pontos: o personagem é real, é Al Pacino encarregado de representar o papel central. Mas o fato de uma história ter acontecido na vida real não é o suficiente para resultar em um filme verdadeiro.
Lumet consegue: enquadra Serpico dentro de um problema mais geral. O papel social dos policiais e seu significado para os rumos da sociedade em geral. O significado (e o tamanho) da corrupção nesse tipo de força.
É preciso aceitar o comportamento um tanto escoteiro de Lumet, que limita um pouco o alcance do filme. Ele trata como anomalia a fusão entre polícia e criminalidade, o que está para ser provado.
Ao mesmo tempo, "Serpico" contraria essa identificação entre polícia e bem, tão frequente e tão confortável no cinema americano. Assume, em certa medida, os mesmos riscos que Frank Serpico.
Para chegar ao resultado eficaz a que chegou, deixa que o assunto fale por si mesmo. E o que o assunto não fala, Pacino se encarrega de fazê-lo. O diretor se apaga em favor do filme. Um tipo prático de generosidade: a coisa funciona.
(Inácio Araujo)

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