São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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Para FHC, quem contesta lei age como `ditador'

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem em Delmiro Gouveia (AL) que quem contesta a lei tem "comportamento de ditador, de quem admira Hitler e não de quem vive na democracia".
O alvo da crítica é o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou anteontem que o "justo e o legítimo" importam mais que a lei.
FHC não citou o nome de Lula, mas, no momento da crítica, falava sobre as declarações do petista.
A frase de FHC foi a seguinte: "Eu não vou me arrogar o arbítrio de dizer o que é justo e injusto. Isso é comportamento de ditadores, de quem admira Hitler e não de quem vive na democracria".
FHC fez a crítica durante discurso no estádio Palmeirão. "Quem é que tem o direito de dizer contra a lei e contra a opinião estabelecida da sociedade?"
Ele criticou o que considera desrespeito às instituições. "Chega de líderes que atropelam. Basta de Collor. Chega de gente que não respeita as instituições", afirmou.
"Nós não precisamos do vermelho da desordem para sermos brasileiros", disse FHC.
Anteontem, o candidato –que vem usando irregularmente fax e pessoal do Senado na sua campanha–, disse que não queria "amesquinhar a campanha tratando do fax do gabinete ou do carro de som do PT".
A referência do candidato a "quem admira Hitler", ditador nazista que comandou a Alemanha de 1933 a 45, atinge Lula.
Em uma entrevista à revista "Playboy", em 1979, Lula afirmou que admirava alguns aspectos da vida de Hitler. Depois, disse que foi mal-interpretado e que não tinha nenhuma admiração pelo nazismo.
Antes do discurso de ontem, FHC deu uma entrevista em que comparou Lula ao ex-presidente Fernando Collor.
Ele fez a comparação depois de ser questionado sobre a declaração de Lula em relação ao cumprimento das leis. "Tivemos um presidente daqui, que inclusive é alagoano, que fez coisa semelhante e deu no que deu", afirmou.
Os organizadores do comício em Delmiro Gouveia calcularam 3.000 pessoas no evento. A PM estimou o número em 2.000 pessoas.
FHC também criticou o projeto de reforma agrária do candidato petista. Disse que a promessa de Lula de assentar 1 milhão de colonos por ano, além de não poder ser realizada por falta de recursos, criaria instabilidade no campo.
Peões
FHC tentou se transformar em um peão sertanejo na busca de votos em Delmiro Gouveia.
FHC se juntou a um grupo de 20 peões e percorreu 500 metros cavalgando nas ruas da cidade.
Os peões estavam vestidos com trajes típicos -roupa e chapéu de couro. FHC pegou um chapéu de vaqueiro do grupo, que foi recepcioná-lo no Estádio Palmeirão.
Ele se disse íntimo em montaria. "Meu pai foi oficial de Cavalaria do Exército", disse aos jornalistas. O candidato afirmou que não fez nada "forçado"."Fui espontâneo. Acham que não me dou bem com essas coisas só porque sou professor."
FHC disse que esse será seu comportamento de campanha de agora até a eleição.
"Não estou preocupado agora com alianças e pesquisa eleitoral. Se subi dois pontos na pesquisa do Datafolha de hoje (ontem), isso não me importa. Quero conquistar os votos nas ruas", disse.
Um dos objetivos da viagem de FHC ao Nordeste, segundo disse o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB) esta semana, era fazer o candidato tomar um "banho de povo".

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