São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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Fé e instinto regem `Carmina Burana'

MARIO VITOR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O espetáculo "Carmina Burana", do grupo polonês Gardzienice, é quase naturalista.
Representado em quadros sucessivos, fala sobre uma comunidade medieval, homens que são meio religiosos, meio camponeses, atacados por desejos libidinosos e dúvidas em relação ao que obedecer, fé ou instinto.
Homens desejam mulheres e são correspondidos, mas se dilaceram a respeito de permitir que esses instintos predominem.
Estão divididos entre o que desejam e fazem secretamente e o que podem mostrar em público.
Vivem num tempo dominado pelo poder da religião, mas são assediados por crenças pagãs, magos, demônios e mitos, e, principalmente, por irresistíveis apetites sexuais.
O elemento central do cenário é uma roda de moinho, espécie de roda da Fortuna. Amarrados a ela, os atores giram, vítimas de uma visão fatalista e aleatória do destino em oposição à rígida organização social vigente na época.
Os atores não falam, cantam, em polonês, uma versão reduzida da obra original produzida entre os séculos 12 e 13.
As canções expressam a angústia e o vazio criados por um período de transição de valores, o que torna a montagem atual. As músicas, encantadoras, são interpretadas por atores preparados para a tarefa.
O texto é pontuado por intervenções de um coro, cujas intensas variações determinam a alternância de tons ora aflitos, ora culpados, ora vigilantes.
A produção parece comprometida em preservar os costumes, o espírito coletivo e inocente das comunidades rurais ameaçadas pelo processo de urbanização.
O resultado tem impacto, numa peça de cerca de 45 minutos, que pode ser acompanhada sem esforço.

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