São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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Sawallisch navega com brilho pelas sinfonias

JOÃO BATISTA NATALI

Erramos: 11/06/94

A Orquestra de Filadélfia executou em São Paulo, a "Sinfonia nº 103" de Joseph Haydn e não a "Sinfonia nº 104", como informou incorretamente este artigo. Sawallisch navega com brilho pelas sinfonias
O maestro Wolfgang Sawallisch é um obcecado pela técnica, sutil na demonstração de seu descomensurado autoritarismo e respeitado como um domador de leões.
O resultado não poderia ser outro: extrai uma boa sonoridade da Orquestra de Filadélfia e dá uma demonstração erudita do que é o sinfonismo inteligente.
A primeira de suas três récitas pela Sociedade de Cultura Artística foi, anteontem, um exemplo disso no Teatro Municipal.
Apoiados em Joseph Haydn (1732-1809) e sua "Sinfonia nº 104", os músicos norte-americanos e o maestro alemão enveredaram com desenvoltura pelas melodias apoiados na homogeneidade das cordas.
Na segunda parte do programa, com base em Anton Bruckner (1824-1896) e sua "Sinfonia nº 4, a Romântica", foi a orquestra como um todo que demonstrou o quanto é boa de música.
As cordas modulam na medida exata, os metais e as madeiras se entrelaçam com ordenamento perfeito e a percussão não cai na armadilha do exibicionismo demagógico.
Sawallisch não é partidário dos subentendidos. Faz questão de explicitar as ordens de entrada ou de intensidade nos sons.
Consegue, com sua rédea curtíssima, passar com extrema e rara facilidade do fortíssimo ao pianíssimo, ou então fazer com que os músicos oscilem por uma dezena de gamas intermediárias de emissão de decibéis.
Em Bruckner, o resultado é fabuloso. A impressão é de que a platéia se encontra diante de um dispositivo eletrônico para o cumprimento das etapas programadas pela partitura.
Três pequenas gafes cometidas durante a "Romântica" –uma embocadura infeliz de uma trompa e duas de um trompete- são detalhes irrelevantes.
Sawallisch é um wagneriano conceituado. Bruckner é Wagner sem o apoio de um enredo operístico. A sinfonia cai então na metafísica. As opções de um maestro menos preparado podem facilmente sucumbir ao arbitrário.
Não é obviamente o que ocorre. Há uma gramática de leitura muito recôndita cuja existência Sawallisch desvenda e cujas regras ele obedece de olhos fechados.
Nessa viagem que os paulistanos ainda poderão fazer hoje às 21h (no programa: Mozart, Bernstein e Mussorsgski), o público encontrará um comandante respeitado e uma tripulação exemplar.

Concerto: Orquestra de Filadélfia
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698, região central)
Preços: 20 URVs (setor 5), 50 URVs (setor 4), 75 URVs (setor 3), 100 URVs (setor 2) e 125 URVs (setor 1)

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