São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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A ilusão do emprego

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Emprego se transformou em prioridade número um, pelo menos retórica, para alguns dos principais candidatos à Presidência da República. A questão está em um dos cinco dedos da mão que serve de propaganda para Fernando Henrique Cardoso, está no programa do PT e é um dos pontos em que Orestes Quércia (PMDB) mais trombeteia.
É simpático propor o aumento do emprego. Mas não há nada mais difícil de se atacar do que o desemprego aberto ou disfarçado que virou um problema estrutural no mundo desenvolvido.
São ilustrativos os números mais recentes sobre o conjunto da América Latina (para escapar de comparações com os países desenvolvidos). A partir dos anos 90, o subcontinente emergiu da prolongada crise que deu à década anterior o rótulo de "década perdida".
Nem assim o emprego cresceu na devida proporção. Recente relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho, organismo das Nações Unidas) mostra que o emprego, no período 91/92, cresceu à média de 3,2%, abaixo dos 3,4% verificados, sempre na média, no período 85/90.
Em outras palavras, o número de pessoas empregadas aumenta, em um período de relativo crescimento econômico, menos do que aumentava em uma fase caracterizada pelo estancamento econômico, quando não pela franca regressão.
Vale idêntica comparação para o Brasil. Entre 1990 e 1992, o PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional) pulou de US$ 392 bilhões para US$ 417 bilhões; um crescimento, portanto, de 6,3%.
Mas o emprego, no mesmo período, não aumentou. Ao contrário, diminuiu. O desemprego pulou de 4,3% da população economicamente ativa para 5,8%.
Ou seja, fica claro que o mero crescimento econômico já não basta para gerar mais empregos, pelo menos não na proporção necessária.
Os avanços tecnológicos e as mudanças gerenciais explicam, em grande parte, esse fenômeno. Mas esses pontos centrais da questão não estão sendo enfocados pelos partidos e seus candidatos. Correm o risco, portanto, de vender ilusões também nesse capítulo.

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