São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Brizola mantém discurso há quase 50 anos

FERNANDO MOLICA
DA REDAÇÃO E DA SUCURSAL DO RIO

O candidato do PDT à Presidência da República, o gaúcho Leonel de Moura Brizola, 72 anos e 47 de vida pública, extrai de um paradoxo sua principal virtude eleitoral: é um candidato diferente porque é eternamente igual. "Desde a minha juventude, sou o mesmo, rigorosamente, em matéria de princípios e convicções", diz.
O lenço vermelho de seu uniforme de campanha era o sÍmbolo dos maragatos, civilistas gaúchos que lutaram no início do século contra os chimangos. Itagiba ao nascer, adotou o nome do chefe maragato Leonel Rocha. Ficou, para sempre, Leonel Brizola.
Autoproclamado herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e João Goulart –de quem era cunhado– e estrela do antigo PTB, Brizola garantiu a posse de Goulart em 1961 após a renúncia de Jânio Quadros.
Governador do Rio Grande do Sul, criou a Cadeia da Legalidade e conclamou a população, do microfone de uma rádio instalada nos porões do Palácio Piratini, a resistir aos que se opunham à posse de Jango.
Brizola se notabilizaria, então, no governo daquele Estado, por promover a distribuição de 45 mil hectares de terra a 35 mil famílias. Repetindo o bordão "Nenhuma criança fora da escola", construiu 6.302 escolas entre 1959 e 1962.
Em 1964, deputado pela Guanabara, incitou o cunhado a levantar barricadas para resistir ao movimento militar. Apelo inútil. Exilado no Uruguai, ainda tentou articular a resistência armada.
O credo que já então o inspirava era a convicção de que o Brasil é um gigante adormecido, que se deixa sugar pelo imperialismo. Se fez tremer adversários à direita, passou a travar mais à esquerda seus embates após o retorno ao Brasil, em 1979.
A sociedade civil que nascia da agonia do regime já não reconhecia no Brizola civilista, nacionalista e republicano a sua fonte maior de inspiração. A resistência institucional aos militares havia gestado líderes como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. No ABC paulista, Luiz Inacio Lula da Silva forçava as instituições e parava as máquinas.
A solidão de Brizola parecia prenunciar sua morte política. Dois mandatos à frente do governo do Rio (1983-87 e 1991-94), no entanto, demonstram que suas idéias ainda têm vitalidade eleitoral.
O que os novos adversários não lhe perdoam é ter buscado alianças no chamado espectro conservador. Em 84, propôs mandato-tampão de dois anos para o presidente João Baptista Figueiredo. Foi o último governador a retirar o apoio a Fernando Collor e propõe agora aliança com Quércia e Amin.
Dono de 7% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, e do maior índice de rejeição (40%), Brizola, mais uma vez, disputa a Presidência. Não teme parecer inatual. Sabe que é diferente porque é "o mesmo, rigorosamente".

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