São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994 |
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Candidato hoje briga mais com a esquerda
FERNANDO MOLICA
Na tentativa de reestruturar um partido de perfil trabalhista, o ex-governador gaúcho topa com um ABC no meio do caminho. Fundado em 1980, o PT viria a se colocar na vanguarda das reivindicações trabalhistas e a ser uma das vozes autorizadas no coro da sociedade civil que pedia a redemocratização plena do país. O próprio Parlamento, ainda que manietado por leis de exceção, havia criado, nos anos do regime militar, lideranças civis que pareciam mais afinadas com o Brasil do fim do regime militar. Com dificuldades para falar a linguagem da nova esquerda ou de artífices da transição, como Ulysses Guimarães ou Tancredo Neves, Brizola funda o seu próprrio partido. O PDT nasce em junho de 1980. Traz a marca e a cara de Brizola ao defender a participação do Estado na economia, criticar as multinacionais e estimular a educação pública. Brizola repete o credo de outros momentos de sua vida. "Quando dizem `o PDT precisa se modernizar, o Brizola precisa modernizar o discurso dele' até me rio por dentro, isto nada mais é do que puerilidade", disse Brizola em agosto do ano passado. Em 1982, consegue sua primeira vitória pós-exílio –a eleição para o governo do Rio, com 1.709.264 votos. Empossado, propõe a porogação por dois anos do mandato do general João Baptista Figueiredo – segundo sua proposição, o sucessor deste na Presidência seria então eleito pelo voto direto. A proposta é criticada por outros líderes oposicionistas –se aprovada, beneficiaria Brizola e os demais governadores, cujos mandatos terminariam em 1987, no mesmo ano do fim da gestão alongada de Figueiredo. Em 1984, após a derrota da campanha das diretas para presidente, Brizola faz uma nova versão para sua proposta: queria um mandato-tampão de dois anos para o sucessor de Figueired. A idéia também não prospera. A eleição presidencial só ocorre em 1989, e Brizola perde o direito de ir para o segundo turno por uma diferença de 454.445 votos (0,5% do total). Em 1991, de novo à frente do governo do Rio, Brizola aproxima-se do então presidente Fernando Collor de Mello, a quem chamara de "filhote da ditadura" na campanha de 89. A aproximação rende verbas para o Rio e, a partir de 92, um problema político: Brizola se diz contrário à criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apurava o esquema de corrupção que teria sede no palácio do Planalto. Brizola só viria a pedir o impeachment de Collor no meio da campanha eleitoral de 92. A frase "Por mim a CPI não saía", dita em uma entrevista, virou atração nos programas do horário eleitoral. 1994 Na campanha deste ano, Brizola busca reeditar não apenas o estilo, mas a inspiração de Getúlio Vargas, quando eleito presidente em 1950 com o apoio do conservador Adhemar de Barros. O pedetista insiste em encontrar, entre políticos de São Paulo, aquele que pode ser o seu Adhemar. Falou com Paulo Maluf, do PPR. Acabou escolhendo Quércia, do PMDB. "O bom é fazer política de esquerda com a direita", justifica Brizola, citando Vargas. Dono de um dos piores índices de popularidade entre os governadores eleitos em 1990, Brizola tem agora mais uma chance de garantir a continuidade do que ele chama de "fio da história": a herança trabalhista deixada por Vargas e Goulart. Texto Anterior: A TRAJETÓRIA DE BRIZOLA Próximo Texto: JULIO ABRAMCZYK Índice |
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