São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Cai taxa de otimismo em relação ao país

VINÍCIUS TORRES
DA REPORTAGEM LOCAL

A inflação aumenta, o desemprego também e 40% da população se sente prejudicada pelo atual plano para estabilizar a economia.
No entanto, quase três entre quatro brasileiros (71%) continuam achando que o país tem jeito, segundo pesquisa Datafolha.
A taxa de otimismo caiu em relação ao pico de novembro de 1993 (83%), aproximando-se ao índice de março de 93 (73%). Mesmo assim, é um dos únicos indicadores brasileiros, entre os econômicos e sociais, que permanecem positivos.
Os mais pessimistas são justamente aqueles a quem foi limitado o direito e o capital educacional e social para alavancar iniciativas à margem do Estado: os moradores das regiões mais pobres, os de menor renda e os menos escolarizados (veja quadro ao lado).
Mas a série "Brasil Viável" mostrou que há centenas, talvez milhares, de iniciativas para melhorar a qualidade de vida e do trabalho e que há várias ilhas de excelência espalhadas pelo país.
Ainda que sob o peso da estagnação econômica, deterioração dos serviços públicos e da falta de perspectiva de mobilidade social, a sociedade se organiza para manter em funcionamento aquela parte de vida do país mais imediatamente relacionada ao seu cotidiano.
No entanto, esse trabalho sob a sombra da estagnação é insuficiente para levantar indicadores sociais e econômicos, que estão no chão.
Até os anos 70, a renda per capita crescia cerca de 35% por década, no mínimo. A taxa de crescimento ficou em 9% na década de 80 para desde então estagnar.
Os investimentos das estatais caem há 15 anos, tornando a infra-estrutura do país obsoleta. Além disso, o Brasil terá dificuldades para financiar a retomada do crescimento.
A dívida externa e estatal interna e a aparente incapacidade do país se entrosar no novo mercado mundial espantam os investimentos estrangeiros.
Se o todo da economia não cresce, no caso dos mais pobres ela anda para trás. Nos últimos duas décadas, os 50% mais pobres vêm perdendo renda para os 10% mais ricos –o Brasil tem renda per capita de país pobre com distribuição de renda de nações miseráveis.
(Vinicius Torres)

O levantamento foi realizado em 4 e 5 de abril último em 256 municípios de todos os Estados brasileiros e Distrito Federal. A pesquisa é um levantamento por amostragem estratificada, com sorteio aleatório dos entrevistados. O Datafolha é dirigido pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi.

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