São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresas pedem mais atenção ao governo

EDIANA BALLERONI; SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os empresários estão reclamando da ausência de canais de comunicação com a equipe econômica.
Alegam que não estão sendo ouvidos sobre as medidas do plano econômico e que isso irá afetar a implantação do real.
As críticas baseiam-se em três pontos principais. O primeiro é a ausência de uma política para fazer frente ao desemprego, que deverá vir com real.
A segunda crítica é o desprezo do governo pelas câmaras setoriais. Por fim, reclamam da indefinição quanto à regras de incentivo às explorações (para compensar o congelamento do câmbio).
Dentro do próprio governo também há queixas. O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, pediu a todos os seus colegas dos ministérios que ajudassem na aprovação da medida provisória que criou a URV (Unidade Real de Valor) e na divulgação do real.
Estiveram presentes na votação da MP da URV somente os ministros Alexis Stepanenko (Minas e Energia), Élcio Álvares (Indústria e Comércio) e Beni Veras (Planejamento). Na divulgação do real, Ricupero trabalha sozinho.
Na última terça-feira, o ministro da Fazenda almoçou com o presidente do Banco Central, Alcir Calliari.
Ouviu de Calliari críticas à demora de explicar aos poupadores que eles não devem sacar suas economias da caderneta.
Na semana passada, no dia 19, o ministro Élcio Álvares recebeu o diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Bernardini, e o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Mário Amato.
Ambos reclamaram da ausência de atenção do Ministério da Fazenda para a questão do desemprego. O ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, tmbém tem recebido as mesmas queixas.
O ex-ministro da Indústria e Comércio Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AEB (Associação dos Exportadores do Brasil), tem sido o portador das reclamações do setor exportador.
Os empresários avaliam que haverá desemprego. Apesar de se esperar um aquecimento do consumo, será preciso cortar custos para compensar os ganhos que antes as empresas obtinham no mercado financeiro.
Cortar custos, neste caso, significa que haverá demissões e irá exigir mais – um aumento da produtividade – de quem continua empregado.
Quanto às exportações, o congelamento do câmbio (R$ 1 ser igual a US$ 1, provavelmente por dois meses) torna o produto brasileiro menos competitivo (porque é mais caro) no exterior.
O ministro Ricupero anunciou na última quinta-feira que os exportadores receberão incentivos tributários. A Folha apurou que haverá outros benefícios.
Os empresários e também os trabalhadores se queixam do pouco caso que o Ministério da Fazenda dispensa às câmaras setoriais – para onde enviam funcionários de quarto e quinto escalão nas discussões.

Texto Anterior: Ricupero se esforça para negar ligação
Próximo Texto: Reajustes só devem ocorrer na data-base
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.