São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Presidente da empresa acha que concorrência seria desleal

DA REPORTAGEM LOCAL

Presidente da empresa acha que a concorrência seria desleal
O brigadeiro Adyr Silva, 58, presidente da Telebrás, diz que a estatal não pode enfrentar concorrência de empresas privadas no mercado de telefcomunicações porque tem "`paralelepípedos' amarrados nos pés.
Os paralelepípedos, segundo ele, são o serviço de telefonia local, telefonia rural, telex e a transmissão de sinais de TV, que dão um prejuízo de US$ 2 bilhões por ano.
Na avaliação do brigadeiro, para carregar este "osso", a Telebrás não pode dividir o "filé", que são os serviços de telefonia celular, interurbanos, telefonia internacional e transmissão de dados.
A seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, em Brasília.

Folha: Por que o sr é contra a quebra do monopólio? A Telebrás não tem condição de enfrentar concorrência?
Silva: Nós estamos estruturados para enfrentar qualquer competição, qualquer guerra de tarifa. Ninguém ganha da gente. Temos tecnologia de ponta e pessoal treinado. Mas como programa de governo, seria um desastre absoluto.
Folha: Por que haveria um desastre?
Silva: Se nós perdermos margem de lucro nos celulares, por exemplo, de onde vamos tirar dinheiro para financiar a telefonia rural? Estamos iniciando um programa para atendimento a 5,5 mil localidades rurais, a maioria na região amazônica, que vai nos dar um prejuízo de US$ 30 milhões por ano. Hoje nós andamos com paralelepípedos nos pés, mas na hora em que quebrarem o monopólio, que derem a largada para a corrida dos 400 metros, vai ser o salve-se quem puder e a primeira coisa que iremos fazer é cortar todos os programas que nos dão prejuízo.
Folha: Mas o governo pode distribuir as concessões de modo a que as empresas que atuarem em mercados muito rentáveis também assumam projetos de cunho social.
Silva: Como tese de doutorado a idéia é muito boa, mas como alguém vai enfrentar uma guerra de mercado com um compromisso desses? Quando quebrarem o monopólio, as empresas farão uma guerra de tarifas, mas logo depois -não por má-fé - elas vão aumentar os preços porque encontrarão um campo fértil para investir e ficarão com o fluxo de caixa apertado porque terão que manter uma planta antiga.

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