São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Mesa do século 18 vale dois Fuscas em SP

JULIANA RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma mesa de encostar, em jacarandá claro, feita à mão no Rio no século 18, vai a leilão no próximo mês em São Paulo por US$ 15 mil, preço equivalente a dois carros populares zero quilômetro, como o Fusca.
O leilão será na casa Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte, nos Jardins (zona oeste).
A procura por esse tipo de raridade segue uma tendência de decoração de interiores com peças de mobiliário antigo, crescente nos últimos anos.
Outras peças, como cadeira de canto em jacarandá escuro, também do séc. 18, podem ser compradas em leilões por US$ 3.000. Uma cômoda rústica, US$ 7.000.
Segundo o antiquário Renato Magalhães Gouvêa, 64, as peças avulsas deixam de ser exclusividade de colecionadores. Muitas pessoas estão comprando para presentear ou mesmo como investimento.
Segundo ele, a decoração moderna permite uma mistura de estilos. "Isso estimula a venda de peças de mobiliário antigo", afirma.
Cadeiras dos séculos 18 e 19, uma chapeleira ou uma espaçosa cômoda rústica podem fazer parceria com a decoração moderna, diz o antiquário.
Para a historiadora Maria Cecília dos Santos, 40, misturar estilos com bom gosto é uma alternativa. "Móveis convencionais, combinados com peças ecléticas dos anos 50 ou no estilo colonial brasileiro do século passado, podem resultar uma decoração leve e agradável", diz Maria Cecília.
Segundo Gouvêa, uma casa de concreto aparente com uma peça rústica, um tapete antigo e móveis modernos ou uma cadeira colonial brasileira, no estilo francês, com um jogo de sofá convencional formam decorações que vêm conquistando adeptos.
As cadeiras são as raridades mais procuradas. Segundo ele, isso ocorre devido a facilidade de integração de cadeiras à decoração moderna com pouco espaço.
"Na época em que esses móveis foram feitos, ao contrário de hoje, as casas eram espaçosas, o que permitia mobiliários grandes e pesados", diz Gouvêa.
Quem desejar presentear ou investir em mobiliário antigo deve estar atento aos detalhes para não ser enganado.
Uma dica, segundo Gouvêa, é observar o desgaste das arestas, que nos móveis antigos se tornam mais suaves, facilitando o reconhecimento da peça.
Mas para evitar dúvidas é bom procurar saber em que período o móvel foi confeccionado, qual o local e as características predominantes na região nessa época.
Gouvêa dá alguns exemplos como o das regiões Norte e Nordeste, onde os móveis dos séculos 18 e 19 são pesados, em vinhático ou jacarandá escuro, conhecido como "cabeça de negro".
Em Minas Gerais, na mesma época, os móveis eram rústicos e em jacarandá claro.
Já no Rio de Janeiro, os móveis eram feitos com entalhes requintados, devido a influência da Corte.
O mobiliário brasileiro dos séculos 18 e 19 lembra muito os estilos inglês e francês, diz Gouvêa.
Já as portas antigas podem ser reconhecidas através das marcas deixadas pelo enxó, ferramenta usada para cortar madeira.
Outro detalhe que pode revelar a autenticidade das peças é a junção, que era feita com cavilhas (pregos de madeira) no lugar de parafusos e pregos de metal usados hoje.
É importante, também, pedir certificado de autenticidade na compra de todo mobiliário antigo.

ONDE ENCONTRAR
Casa Magalhães Gouvêa, av. Europa, 68, Jardins
Exposição de tapetes: de 6 a 15 de junho
Leilões: de 23 a 29, de móveis, porcelanas e pratarias

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