São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994 |
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O ministro e o candidato
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO –Havia preparado, para hoje, uma crônica sobre o ex-ministro Fernando Henrique Cardoso e o atual candidato presidencial de mesmo nome. Deus e meia dúzia de leitores foram testemunhas de que muito critiquei o ministro.Continuo considerando o Plano Real uma empulhação econômica e uma demagogia eleitoral, mas não foi apenas isso que critiquei no ministro. Ele fez questão de romper com o seu passado, adquirindo nova e discutível personalidade. Se pediu ou não pediu que esquecessem o que havia escrito, é irrelevante. Na prática, foi assim que ele funcionou, secionando bruscamente a sua biografia. Agora, como candidato, preparava-me para louvá-lo com todo o coração. Ele vem brilhantemente recusando os conselhos dos fazedores de vitória. Não me refiro aos seus sapatos e gravatas. Publicitários, técnicos disso e daquilo, os PhDs de vencer eleições querem ensinar-lhe como se ganha votos. E FHC tem resistido, prefere continuar sendo ele mesmo. Pode não dar votos essa autenticidade, mas pelo menos ficamos sabendo em quem vamos ou não vamos votar. Cheguei a escrever uma crônica elogiando-o rasgadamente pela atitude. Ontem, abro os jornais e vejo FHC montado num pangaré. O pangaré exala autenticidade. Já o candidato me assustou: pensei que fosse o ator Átila Iorio num "remake" de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. Ia telefonar para o Nelson Pereira dos Santos –que dirigiu o filme– quando reparei que a foto era em cor e o filme, de 1962, fora rodado em preto-e-branco. Bem verdade que os velhos filmes americanos estão sendo colorizados, mas o Nelson não iria deixar que fizessem isso com ele. Atentei bem e vi que era mesmo o FHC, tão sem jeito que a única desculpa que encontrou foi alegar a sua condição de filho de oficial de Cavalaria. Bem, em época de eleição vale tudo. Rezar para o Padre Cícero, cavalgar pangarés, receber santos nos terreiros da Bahia –tudo isso faz parte do calvário eleitoral. Ainda assim, FHC está se saindo melhor candidato do que ministro. Texto Anterior: Vaie, torcedor, xingue Próximo Texto: A outra face do liberalismo Índice |
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