São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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"Exército"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É falar em invasão de terra, em greve, coisas assim, e Alexandre Garcia aparece no primeiro bloco do Jornal Nacional. Ontem, sempre dando a entender que estava transmitindo uma impressão que é do presidente Itamar Franco, o porta-voz falou que os sem-terra formaram um verdadeiro "exército".
Eles estariam com um "alto preparo", que é garantido em verdadeiras academias de invasão. Eles também teriam "armas", já havendo relatos de "escopetas" e assemelhados. Tudo, é claro, com vistas à eleição. Efeito do "ano eleitoral". Efeito, o que ninguém disse, de Lula estar na frente.
O alarmismo, assim como o radicalismo, está apenas começando. Mais quatro meses e Alexandre Garcia vai surgir no Jornal Nacional em uniforme de campanha. Com a arma em punho, talvez camuflado. Chamando para a resistência.
Taxistas
O carro de som de Lula, o fax de Fernando Henrique, nada se compara à máquina eleitoral do PMDB. Uma máquina que o governador Fleury, que resolveu cumprir o mandato até o final, está colocando para andar em São Paulo. Primeiro, com as ambulâncias, no interior. Agora com os táxis, na capital.
Ontem, registrou o Rede Cidade, da Bandeirantes, "o governador e o candidato Barros Munhoz participaram da assinatura de decretos que isentam a cobrança do ICMS na compra de carros novos para taxistas". A coisa é descarada, mesmo. É tirar dinheiro do Estado para sustentar uma candidatura.
É fisiologia. Depois dizem que essas coisas só acontecem no Nordeste, onde são os coronéis que mandam. Em São Paulo é a mesma coisa. Foi assim na eleição do próprio Fleury. Que repetiu a dose para tentar eleger o seu vice à Prefeitura. Perdeu feio. Quem sabe as coisas estejam mudando, afinal.
Ridículo
A revisão constitucional vai chegando ao fim e começam os balanços. Ontem, no TJ, um correspondente disse que "o balanço da revisão é ridículo". Disse que a única mudança importante foi a redução do mandato presidencial. Em seguida, o âncora culpou os petistas, que temiam golpe anti-Lula.
Pela única decisão importante da revisão –que tirou um ano do mandato de Lula, caso venha a ser eleito– os petistas estavam certos. Mas o mandato reduzido não foi o fato principal da revisão, no fundo. Em balanço político, o que ela fez, de mais importante, foi dar um fim na CPI do Orçamento.

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