São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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Yves Lebreton mostra o trágico e o cômico das frustrações cotidianas

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O 4º Festival Internacional de Artes Cênicas traz mais um espetáculo teatral baseado na expressão física.
"Flash", que o francês Yves Lebreton apresenta de amanhã até sexta-feira no Teatro Sérgio Cardoso, mostra um personagem que pronuncia apenas uma palavra: "Rocky!". O resto da história ele conta através do corpo.
Auto-suficiente em sua performance, Lebreton atua como autor, diretor, cenógrafo e ator. "Para mim, teatro é uma criação total, onde o ponto de expressão mais importante é o movimento", diz.
Jaula
Em "Flash", Lebreton também combina o cômico e o trágico. "Essa mistura me interessa muito porque, na vida, a tragédia e a comédia se confundem. São condições inseperáveis."
Segundo Lebreton, o tema de "Flash" são as frustrações da vida cotidiana. "Vivemos em uma sociedade cujas regras se transformam em uma jaula para as pessoas."
Apesar do aspecto trágico da questão, ele procura revelar também o lado irônico de um personagem becketiano, que trabalha num escritório e vive a mais tediosa das rotinas.
"Nesse cotidiano sem sentido, em que o personagem perde personalidade e liberdade, transformando-se apenas em um número, a única válvula de escape é a imaginação."
Mímica
Nascido em Paris, Lebreton, 48, não gosta que confundam seu trabalho com mímica, embora tenha se formado com um mestre no assunto, Étienne Decroux.
"Ao contrário de Marcel Marceau, que realiza uma mímica baseada na pantomima, Decroux pesquisava o movimento", explica. "Meu teatro se fundamenta, essencialmente, na presença física do ator no palco."
Logo que iniciou a carreira profissional, em 1969, Lebreton foi convidado pelo teatrólogo Eugenio Barba para dirigir um grupo no Teatro Laboratório Inter-Escandinavo para a Arte do Ator, na Dinamarca, onde viveu seis anos.
Em 1983, ele mudou-se para a Itália. Comprou uma antiga fazenda nas montanhas da Toscana e lá instalou o Teatro Dell'Albero, um centro cultural voltado para a formação, pesquisa e criação teatrais, onde trabalha até hoje.

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