São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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Lançado em vídeo filme inédito de River Phoenix

RODRIGO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O último filme inédito do ator River Phoenix, morto no ano passado por uma overdose de barbitúricos, chega às locadoras na próxima semana. É "O Espírito do Silêncio", de Sam Shepard.
O filme de 1992 não chegou a estrear nos cinemas. Phoenix ainda filmou "Even Cowgirls Get the Blues". O ator morreu durante a produção de "Entrevista Com Vampiro", do romance homônimo da norte-americana Anne Rice.
A capa de "O Espírito do Silêncio" traz a inscrição "western". Mas a fita não é um faroeste clássico. Não há um único assassinato ao longo dos cem minutos que duram o filme.
É bem verdade que a grande disputa na história é mesmo entre índios e brancos, em um lugarejo perdido em algum canto entre o que hoje são o México e os EUA, chamado Llano Estacado. A data é 1873. As filmagens foram em Rosswell, New Mexico (EUA).
Dois irlandeses perambulam pelo deserto. Um deles é o ladrão de cavalos Prescott Roe (interpretado pelo veterano Richard Harris, de "Os Imperdoáveis").
McCree é o típico europeu-conquistador-politicamente-incorreto. Tem duas filhas com uma índia (Silent Tongue, que dá o nome original ao filme), mas considera os nativos sub-raça.
Diz frases como "Ela é uma índia, e índios nasceram para sofrer", ou "Sou um europeu, não um selvagem".
McCree vende sua filha Awbonnie para Roe, o ladrão de cavalos. A índia se casa com o filho dele: Talbot (River Phoenix).
Awbonnie morre no parto e Roe volta a procurar McCree para tentar comprar sua segunda filha.
Talbot está atormentado pela morte da garota e não consegue se livrar de seu corpo. Enquanto Awbonnie não for enterrada, perturbará o personagem de Phoenix.
Nem por sua implicância contra os índios nem por vender as filhas, McCree deixa de ser simpático. E este é o grande mérito do filme.
Brancos e índios são igualmente heróis (ou vilões), diante de um ambiente inóspito que é um deserto em um fim-de-mundo.
River não é o protagonista da história. Ele não chega a empolgar. Mas mantém o bom nível de outros papéis em que interpretou um jovem atormentado ("Garotos de Programa" e "Te Amarei Até Te Matar", por exemplo).
Sam Shepard estreiou como diretor em 89, com "A Casa de Kate É Um Caso". Além de dirigir, Shepard é escritor (autor de mais de 40 peças teatrais).
Como ator, recebeu uma indicação para o Oscar por sua atuação em "Os Eleitos". É dele o roteiro de "Paris, Texas", vencedor de Cannes, em 1984.
Outro grande charme do filme é o misticismo dos índios da América do Norte. O cadáver de Awbonnie é mantido por Talbot Roe amarrado a uma árvore seca, em uma túnica e com pinturas que dão a ela a aparência de uma múmia pré-colombiana.
Vale prestar atenção à bela fotografia de Jack Conroy. E não convém se assustar com o ritmo às vezes lento do filme. Ele tem a aventura necessária e a preguiça que combina com o cenário.

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