São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Da Reportagem Local

DA REPORTAGEM LOCAL

A crítica e o público nunca concordaram muito quando o assunto é rock nacional.
O que quer dizer se uma banda é boa? O gosto do público que lota estádios e faz com que as bandas ganhem discos de ouro ou o gosto da crítica, que muitas vezes "detona" a banda?
Esse descompasso começou a ficar muito nítido a partir de 1985. O rock começou a vender muito no Brasil. Não era o rock americano ou Europeu. Era um rock feito aqui mesmo, por garotos com cara de pirralhos.
Eram as bandas Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Kid Abelha. O rock nacional invadiu as rádios e os programas de TV. Rock cantado em português passou a dar samba.
É claro que não foi essa turma que inventou o rock no Brasil. Um monte de bandas já existiam no underground: Fellini, Ratos de Porão, Black Future (essas pouco conhecidas pelo público e adoradas pela crítica).
Mas foi naquele denominado pela imprensa de "boom do rock nacional" que as pessoas "normais " viram que existia rock no Brasil.
O público adorou as "novas" bandas. A crítica, nem tanto. Logo surgiram comparações das bandas com outras estrangeiras. "É tudo cópia". Legião parecia Smiths escarrado. Paralamas do Sucesso era xerox do Police. E por aí vai.
Nessa época as gravadoras resolveram apostar no rock como o filão mais rentoso do mercado (algo que acontece hoje com o pagode e com o sertanejo). E é claro, lançaram coisas que não emplacaram. Coisas de qualidade duvidosa.
Passada a empolgação, o mercado ficou parado. Muitas bandas saíram de suas gravadoras. O selo Plug (que lançou bandas como De Falla e Picassos Falsos) foi extinto.
Parecia que o espaço para o rock tinha ficado restrito definitivamente à bandas já consagradas: Legião, Titãs, Paralamas, Engenheiros, que, diga-se de passagem, nunca deixaram de vender.
Nos anos 90 as coisas começaram a melhorar. O Brasil começou a criar uma cena de rock de verdade. Isso porque as pessoas deixaram de depender das grandes gravadoras e começaram a lançar por selos independentes.
Só para citar alguns, hoje existe o Rock it! (de Dado Villa Lobos da Legião e André Muller da Plebe Rude), que lançou o Second Come e o Gangrena Gasosa e o Banguela (do pessoal dos Titãs) que lançou os Raimundos , e mais um monte deles. As bandas pararam de ter a obrigação de vender um monte de exemplares para sobreviver.
Foi exatamente essa safra dos anos 90 que começou a quebrar o bode da crítica com o rock nacional.
Pelo contrário. O Chico Science & Nação Zumbi virou "darling" dos críticos raivosos. O mesmo aconteceu com os Raimundos e deve acontecer com outras bandas.
Pela primeira vez, parece que público e crítica estão concordando. As músicas do "Chico", por exemplo, fazem sucesso nas rádios e nas conversas dos críticos mal-humorados.

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