São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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APRENDIZ DE LAGARTIXA

RICARDO ROJAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se os alpinistas não vão à montanha, as montanhas chegam, artificiais, até eles. São Paulo ganha esta sexta-feira o primeiro ginásio de escalada artificial, o Noventa Graus.
Ainda sobre "muros-montanhas", a cidade abriga a partir do dia 13 uma exposição de fotos e filmes sobre alpinismo, a partir das 21h, no Espaço Banco Nacional de Cinema.
Dia 25, também em São Paulo, acontece a etapa inicial do 1º Campeonato Brasileiro de Alpinismo Indoors. Os organizadores ainda não revelaram o local da escalada. Será montada uma estrutura (um muro) especial para as "lagartixas urbanas".
O Noventa Graus é o primeiro do gênero no Brasil e oferece nove vias (rotas de escalada) simultâneas com a supervisão de pessoas especializadas em treinamento dirigido aos alpinistas.
As diferenças
O alpinismo (escalar montanhas) e a escalada esportiva (em muros artificiais) podem ser praticados, basicamente, por pessoas de qualquer idade e sexo.
Cynthia Versellezi, 23, grávida de quatro meses, escalou a Pedra Grande, em Atibaia (65 km ao norte de São Paulo) no fim-de-semana retrasado.
A escalada em parede artificial é um esporte recente. Surgiu na Europa, quando no inverno os alpinistas não podiam subir as montanhas devido ao frio e à neve, e construíam paredes artificiais em ginásios.
Com a prática da escalada durante todo o ano, os alpinistas evoluíram tecnicamente muito rápido e com isso vieram as competições.
A princípio, elas aconteciam nas rochas, para ver quem conseguia completar as vias mais difíceis primeiro.
Posteriormente as disputas passaram para dentro dos ginásios, onde é possível inventar o grau de dificuldade desejado para as competições.
São usados dois tipos de escalada em rochas: artificial, onde a segurança (corda de segurança) vem de cima, presa a grampos já fixados na rocha; ou livre, onde a segurança é feita de baixo (o último grampo por onde a corda passou está abaixo do alpinista).
A escalada esportiva necessita de muita técnica para enfrentar as mais complicadas vias construídas para o desafio.
Na parede artificial, as vias são mais visíveis, uma vez que todas as agarras (local de apoio durante a escalada) estão à mostra. Na rocha só os mais experientes têm facilidade para enxergar as agarras.
As maiores diferenças estão no tipo de parede a ser escalada, em ginásio ou em montanha: parede positiva (com inclinação inferior a 90º) ou parede negativa (superior a 90º).
Nessas duas situações os trabalhos musculares são totalmente diferentes e a forma (posição) como se escala também muda muito. Na parede positiva usa-se mais as pernas e na negativa trabalha-se mais os braços.
Rumo à Pedra Grande
Na hora da partida é preciso ter calma para reunir todos os equipamentos de segurança (veja quadro).
Normalmente você tem que estar preparado para caminhadas, que levarão até o ponto de início da escalada.
Estacionados na própria Pedra Grande os alpinistas começam a tirar o equipamento do carro e colocar nas mochilas.
É uma curta caminhada até o topo da rocha, onde já há dois grampos para fixação das cordas de segurança.
Dali todos descem de rapel (ato de descer a montanha): a segurança vem de cima e a rocha é positiva, com agarras bem pequenas, difícil de pegar.
Essas condições favorecem os alpinistas que estão de sapatilhas –têm maior aderência à rocha.
O garoto Naboro Sakabe, 16, foi quem melhor se adaptou às condições da Pedra Grande pois já escalou várias vias desse pico.
Paulo Gil, 28, o mais experiente de todos, foi o primeiro a completar a via e reconhecer o terreno dando as dicas para a escalada do garoto.

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