São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Dia D

Há exatos 50 anos, tropas aliadas desembarcavam na costa da Normandia, abrindo o segundo front da guerra que sepultaria definitivamente os desvarios do ditador homicida Adolf Hitler. Nem mesmo a formidável máquina de guerra alemã seria capaz de suportar ao mesmo tempo a existência de duas grandes frentes de batalha.
A leste, a determinação do Exército Vermelho, à custa de milhões de vidas, conseguia deter o avanço do que parecia ser o invencível exército nazista. A oeste, a superioridade bélica e numérica das forças aliadas foi capaz de reverter a imensa vantagem de posicionamento das tropas germânicas.
Tratava-se de uma corrida contra o tempo. Alguns dias depois do Dia D, Hitler lançava contra Londres as primeiras bombas V-1. E, pior, dentro em pouco seus cientistas deveriam desenvolver a bomba atômica, o que talvez tornasse os nazistas de fato invencíveis.
É melhor nem imaginar o que significaria uma vitória de Hitler e seus aliados sobre o mundo. O planeta já viveu vários períodos de trevas, mas nunca se defrontou tão de perto com a barbárie humana como durante os anos em que o tirano ensandecido controlou a Alemanha e mais da metade da Europa.
Em sua lógica deturpada, Hitler patrocinou o assassinato em escala industrial e com a proverbial eficiência alemã de cerca de 6 milhões de judeus pelo simples fato de serem judeus. Sempre fica a pergunta: como um povo culto e politizado como o alemão foi capaz de gerar tamanha monstruosidade? Como a civilização que produziu um Goethe foi capaz de parir um Hitler?
O historiador alemão Joachim Fest gasta mais de mil páginas para tentar desvendar um pouco da complexa personalidade do maior homicida da história e do povo que o elegeu. Para Fest, foi determinante para que Hitler chegasse ao poder a sensação de angústia de um povo profundamente humilhado pela "Paz de Versalhes", massacrado por uma crise econômica aparentemente sem fim e profundamente cético em relação aos mecanismos democráticos da República de Weimar.
Nestes dois últimos pontos, guardadas as imensas diferenças de proporção, Brasil e Weimar mantêm até alguma semelhança. E isso é sempre inquietante.
Felizmente, no Brasil, não existem candidatos que preguem ódio racial e chauvinismo como solução para a crise. Ainda assim, é sempre bom lembrar até onde a angústia de um povo pode levar uma nação. Conhecer os desastres da história é uma forma de não repeti-los.

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