São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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A força de Lula

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – A eleição de 89 colocou na Presidência da República o anti-José Sarney.
O dinamismo e a juventude de Collor representavam a antítese do Sarney indeciso e da decrepitude dos políticos nacionais. De quebra, prometia combater a corrupção e o fisiologismo.
O governo Collor deu no que todos sabemos. Poucos governos foram tão despudoradamente corruptos.
Itamar vem tentando ser a antítese de Collor. É notório o esforço do presidente para preservar limpas sua imagem e a do governo. Mas é notório, também, que é uma administração ineficaz.
A sequência de algumas administrações (de ministérios, Estados e municípios) honestas mas ineficazes invalidou a idéia de que se tinha, após o impeachment de Collor, de que a principal virtude a ser exigida do próximo presidente seria a da honestidade.
A pesquisa Datafolha publicada ontem sobre as razões do voto e da rejeição mostra claramente que a questão da honestidade só é realmente relevante para um candidato, Orestes Quércia.
Apenas 6% dos que se dizem seus eleitores votam nele por esta virtude, enquanto 36% dos que o rejeitam o fazem por achá-lo corrupto. Mas poucos vão votar ou deixar de votar em Lula, FHC ou Brizola porque são honestos ou desonestos.
Em compensação, o confronto experiência pública versus incompetência tem relevância eleitoral. Este é o ponto forte dos ex-governadores Quércia, Brizola e Amim e o ponto fraco de Lula.
Mas se Lula não tem experiência e o fator honestidade não o diferencia dos outros candidatos, com exceção do Quércia estigmatizado, por que Lula está na frente? Por que tem tanta gente pensando em votar nele?
A pesquisa é clara: por sua origem social ("foi uma pessoa pobre, que veio de baixo"), pela idéia de que representa os trabalhadores, de que vai ajudar os pobres, de que vai combater a miséria, de que vai lutar contra o desemprego.
Estes itens evidenciam uma prioridade clara do eleitorado pelo fim do apartheid social, da concentração de renda e da recessão. Até agora, estes fatores têm sido mais importantes para os eleitores do que a honestidade, a experiência e a estabilização da economia.

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