São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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"Señor Z" mostra apenas um Zorro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

No extrato de uma crítica francesa, no programa da peça, "Señor Z" é citada como "um espetáculo inteligente, que dá ao teatro sua dimensão olímpica".
Uma maneira empolada de dizer que se trata de uma peça de mocinho e bandido, que nada acrescenta, em enredo, em trama, às histórias mais baratas do Zorro.
Pois é do Zorro que se trata. O senhor Z do título é o próprio, que lutava contra o sargento Garcia nos quadrinhos para adolescentes.
Deve ter sido contraído para Z por alguma motivação de direito autoral. Mas está tudo lá, o Zorro com seu cavalo e sua namorada, o sargento Garcia, gordo, os demais bandidos.
"Señor Z", mais uma atração francesa nos festivais de São Paulo, Belo Horizonte e Londrina, é resultado das experiências intermídia –e também de uma supervalorização dos quadrinhos– que correram mundo poucos anos atrás.
Experiências que chegaram ao Brasil, em peças, como ocorre com esta "Señor Z", de superficialidade extrema, ainda que com inovações cênicas interessantes.
Isso porque "Señor Z" –cujos personagens e enredo agradam tanto às crianças e aos adolescentes, que formaram boa parte da platéia em São Paulo– tem mais a acrescentar ao público adulto –a maioria, nas apresentações– na cenografia e, talvez, na sonoplastia. O cenário é exemplo de uso artístico da tecnologia.
Parafernália
Até a televisão entra em cena, mas sem o conflito estético que, em geral, acaba proporcionando. Televisão e também cinema, as duas artes modernas nascidas do teatro. Também teatro, mas na forma de teatro de bonecos. Tudo em inesperada integração, numa parafernália que faz lembrar os velhos palcos ambulantes.
A ação –assim como os ambientes em que ela acontece– é projetada numa tela na boca de cena. É o teatro de sombras. Há imagens gravadas, outras com bonecos, outras com pequenos galhos que surgem como árvores. Algumas chegam a ser interpretadas com as mãos, numa das poucas intervenções diretas do que seria possível chamar de ator.
Artificialidade
Outra, talvez, seria aquela do sonoplasta, que passa o tempo todo exposto ao público e faz a maior parte das "vozes" ou dos grunhidos dos personagens. Com suas reações engraçadas, estando ele à vista do público, como é próprio do teatro, em alguns momentos a peça até consegue vencer o distanciamento, a artificialidade.
Mas não adianta, que não há muito de teatro em "Señor Z". Ela está mais para os quadrinhos, ou para cinema e televisão. Está mais para o mundo das imagens, das formas, sem grande conteúdo.
Aliás, conteúdo não pode mesmo ser a preocupação para alguém que escolhe o Zorro e o capitão Garcia por personagens.

Peça: Señor Z
Direção: Luc Amoros
Roteiro: Luc Amoros
Música: Richard Harmelle
Elenco: Companhia Amoros e Augustin
Quando: nos últimos sábado e domingo
Onde: Teatro Ruth Escobar

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