São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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"Aladdin" é show de dinamismo e invenção

SERGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

"Aladdin" é show de dinamismo e invenção
O desenho mantém o controle de qualidade e atualidade dos estúdios Disney com seu ritmo de video game
A fábrica Disney de fantasias sempre encontra um jeito de se adaptar aos novos tempos para não perder o reinado absoluto. Ela não tem apenas controle de qualidade, mas também controle de atualidade. Por isso, mais que um desenho animado, "Aladdin" é um desenho animadíssimo, quase frenético, típico produto da era video game. Seu tapete mágico corta os céus como uma espaçonave de "Guerra nas Estrelas" (ou como o Super-Homem). Suas perseguições deixariam Indiana Jones com os bofes de fora já no primeiro rolo. Só faltou o rock. Ainda bem.
O que não quer dizer que as músicas sejam boas. Já não se fazem mais canções como antigamente. Outro "When You Wish Upon a Star" nunca mais.
Outro ponto a favor: a escolha de Robin Williams para dublá-lo. Nada mais justo, pois o personagem foi desenhado à sua imagem e semelhança. Williams, exímio imitador de vozes, engole a fita.
(A fita legendada, bem entendido. A outra versão, dublada no idioma pátrio, não oferece os mesmos prazeres da original.)
Bolado por Eric Goldberg, o gênio dá-se o luxo de cometer trocadilhos visuais. Em outra versão, afinal vetada pela Disney, ele era um negro de brinco na orelha que cantava "Friend Like Me" ao estilo de Fats Waller. Acabou ficando menos jazzístico, mas nem por isso menos suingante e matreiro.
Embora fisicamente inspirado no galã Tom Cruise, Aladdin terminou dublado por outro ator (Scott Weinger). Não sei se alguma atriz serviu de modelo para a princesa Jasmine, mas há que se louvar a manutenção de seu perfil oriental, "sheerazadianamente" correto. Infelizmente, tanto ela como o seu amado pivete são enjoativamente olhudos como aquelas figuras "kitsch" de Keene.
Já o perverso vizir Jafar, muito bem dublado por Jonathan Freeman, teve seus contornos copiados de um artista bem mais nobre, Erte. Ainda que sintonizados com as últimas conquistas da computação gráfica, os 600 animadores e técnicos comandados por John Musker e Ron Clements deram preferência a criadores anteriores à invenção do Coral Draw.
Alem de Erte, Keene, Hirschfeld e todos aqueles anônimos gênios da prancheta que ajudaram a dar forma e vida a Mickey, Pato Donald, Pinóquio, Dumbo e Zé Carioca (de certo modo o modelo do intrigante papagaio de Jafar, adrede chamado Iago), este 31º longa de animação foi buscar inspiração, ainda, em pinturas pré-rafaelitas, miniaturas persas e nas sinuosidades da caligrafia árabe.
Uma mixórdia, sem dúvida. Como "Fantasia". E, como esta, extremamente inventiva.

Vídeo: Aladdin
Distribuidora: Abril Vídeo (011/832-1555)

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