São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Surrealismo de butique afunda o sonho americano de Kusturica

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há cineastas estrangeiros que se dão bem na América –e Hollywood se fez, em grande parte, com o talento deles. Mas há diretores que, aparentemente, perdem o rumo quando se afastam de sua terra. Movem-se no cinema americano como uma criança deslumbrada com a Disneylândia.
É o triste caso do iugoslavo Emir Kusturica. O que era encanto e magia em "Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios" e "Terra de Ciganos" virou um surrealismo de butique em "Arizona Dream".
O argumento é ralo. O jovem desajustado e sonhador Axel (Johnny Depp, de "Edward Mãos de Tesoura") vai ao Arizona para o casamento do tio herói (Jerry Lewis) e este o convence a se empregar em sua loja de carros. O rapaz se envolve com uma cliente quarentona, Elaine (Faye Dunaway), e vai morar em sua fazenda.
Lá, fustigados pela ciumenta enteada de Elaine, Grace (Lili Taylor), eles passam o tempo fazendo sexo e tentando construir uma engenhoca que voe.
A mensagem explícita e repetida à exaustão durante o filme é: viva seus sonhos e eles se tornarão realidade. Com base em tão profunda e original máxima, Kusturica acha que vale tudo, até botar peixes voando pelos ares. Perdeu não só o rumo, como também o senso de ridículo.
Pelo menos uma proeza ele conseguiu: tornou sem graça o rei da comédia Jerry Lewis, que deve estar arrependido até agora de ter embarcado nessa canoa furada.
O filme ganhou o Urso de Prata em Berlim, o que mostra, mais que qualquer coisa, a decadência do festival.

Vídeo: Arizona Dream - Um Sonho Americano
Produção: EUA, 1993, 140 min.
Direção: Emir Kusturica
Elenco: Johnny Depp, Faye Dunaway, Jerry Lewis, Lili Taylor
Lançamento: Europa Home Video (tel. 011/579-6522)

Texto Anterior: "Aladdin" é show de dinamismo e invenção
Próximo Texto: Joe Pesci aumenta sua galeria de tipos hilariantes com "The Super"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.