São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Marcelo Villares expõe pinturas de cores pulsantes e traço flexível

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Exposição: Pinturas de Marcelo Villares
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, Jardins, São Paulo)
Quando: abertura hoje, às 21h; até 25 de junho; de segunda a sexta, das 10h às 19h, sábados, das 10h às 14h

O artista plástico Marcelo Villares mostra a partir de hoje suas pinturas recentes na Galeria Nara Roesler. Apresentando-se em várias coletivas importantes, há oito anos não fazia individual em São Paulo.
Como bom colorista, Villares tira partido das diferentes pulsações das cores, costurando em uma espécie de retícula várias alturas do espaço pictórico. Aberta ou fechada, mais ou menos visível, essa retícula tem o traçado flexível da mão, em uma cadência orgânica que dissolve qualquer geometria dura.
A essa tessitura se contrapõem regiões mais recessivas da tela. Umas e outras se alinhavam pela pincelada precisa, nutrida de tons variáveis e rebaixados da mesma paleta.
A qualidade da cor e da pincelada, trançada em vários estratos, faz com que essa pintura vá achando seu caminho, por entre ecos longínquos da abstração francesa, de uma Maurice Estéve.
Essa mesma qualidade de pintura, que faz o acrílico ganhar o corpo cheio de gradações do óleo, dispensa a rugosidade apropriada das colagens de papel que Villares põe por baixo. O vigor mitigado da própria pincelada poderia suprir a colagem, mas esta não compromete o resultado.
Tramada à pintura, essa rede composta genericamente por verticais e horizontais, fala da inescapável vocação do desenho. Vocação dupla: como estrutura do campo pictórico e como resíduo (ou registro) de um gesto voluntário. Pollock incidiu exatamente aí, assumindo integralmente a pintura enquanto registro de um movimento do corpo: ela é o próprio movimento antes de fixar-se no suporte –a tinta no ar.
Depois disso, a pintura só pode ser campo, e campo real, compatível com o corpo no espaço. Estava desafiada, portanto, enquanto fenômeno retiniano. A pintura heróica volta-se a esse desafio e, sendo radical, deixa de ser pintura para expandir-se no campo real.
Pulsação cromática e trama de pincel são as armas eternas de uma pintura que se entende num sentido intimista. Daí brotam suas questões, que são sempre de tempo e espaço. Espacialidades planares ou recessivas, tempos lentos ou rápidos.
E com esses recursos Marcelo Villares consegue abrir sua trilha.

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