São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Equilíbrio ameaçado

Se parece cada vez mais consensual que a quebra da chamada inércia inflacionária, consubstanciada na troca de moeda, deverá num primeiro momento reduzir sensivelmente a inflação, é também consensual que esta só permanecerá baixa se houver uma mudança de fundo no estado das contas públicas. E, quanto a esse aspecto, há informações de que a meta de equilíbrio orçamentário enfrenta problemas e pressões inquietantes.
É o caso, por exemplo, de diversas emendas ao Orçamento apresentadas no Congresso propondo a recomposição das verbas para investimentos de estatais, como informa hoje esta Folha. Não surpreendem, aliás, as suspeitas de que destinatários de recursos cortados estejam fazendo gestões em favor de tais emendas. Era até esperado.
O que é preciso alertar é para os efeitos potenciais desse tipo de propostas. Independentemente do mérito de cada pleito, o fato é que a credibilidade do equilíbrio orçamentário é indispensável para a estabilização, e que esta é prioridade do país no momento. Nesse sentido, a responsabilidade de dar ao combate à inflação alguma chance de sucesso está também nas mãos do Congresso. Seu histórico quando se trata de dispor do dinheiro do contribuinte é, porém, sabidamente desanimador.
O mesmo alerta vale para o Executivo, que fatalmente vai enfrentar reclamos crescentes por recursos neste ano eleitoral. Há ainda a via indireta, mas altamente perigosa, dos bancos estaduais. Não raro instrumentos de mandatários sem escrúpulos, acabam batendo às portas da União atrás dos recursos que não tinham mas que já gastaram. Caberá ao Executivo aplicar na prática seu discurso prévio de inflexibilidade face a governadores perdulários controlando seus bancos.
Com os detalhes técnicos da conversão para a URV dominando cada vez mais as atenções no país, é preciso cuidado redobrado com a questão orçamentária. Não apenas porque as sombras da desatenção abrem espaço para interesses setoriais ou eleitoreiros, como também porque sem um fundamento econômico concreto, sem um equilíbrio nas contas públicas que dê credibilidade à moeda, todo o plano econômico corre o risco de se reduzir a mais um malabarismo monetário de curta duração.

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