São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Desemprego e Eldorado

ANTONIO DELFIM NETTO

Um dos problemas mais graves enfrentados por todos os países é o crescimento da taxa de desemprego. A tabela abaixo revela o seu nível atual em três países da União Européia:
O caso espanhol é aterrador. Como seria possível imaginar que terminaria tão tragicamente a social-democracia apoiada no famoso pacto de Moncloa? A Austrália, a Bélgica, a Inglaterra, o Canadá e a Dinamarca também convivem com taxas de desemprego maiores do que 10%. Os EUA têm cerca de 6,5%. A Suécia tem 7,5% e a Alemanha, 8,5%. O Japão, em crise, tem uma taxa de 3%.
Quase 25 milhões de trabalhadores desiludidos vagam pelas ruas ou estão escondidos e desmoralizados em suas casas à espera de uma solução que venha do governo. E os governos esperam que a solução venha dos economistas! O pior é que estes não têm uma solução. Nem eles, nem nenhum político ou jornalista! O que eles têm é a vaga sugestão de que o fenômeno pode ser explicado pelo aumento do auxílio-desemprego com relação ao salário médio e pela capacidade produtiva não utilizada devido à redução de demanda produzida pela queda dos investimentos.
O "welfare state" social-democrático teria produzido acomodação de oferta de trabalho (pelo sistema tributário e pelo aumento do seguro-desemprego) e redução dos investimentos privados (pelo sistema tributário e pelo aumento da regulamentação das atividades produtivas). Se o diagnóstico for correto, será necessário um longo e difícil processo político para resolvê-lo, pois ele envolve profundas questões institucionais.
Há, ainda, claras indicações de que a unificação da Europa está mudando os atrativos locacionais, no mesmo momento em que se desenvolvem tecnologias e se modificam as formas de competição internacional. Isso perturba o funcionamento do mercado de trabalho e torna o ajuste mais lento e doloroso.
O fato, entretanto, é que o "welfare state" extraiu sua legitimidade da construção de um "capitalismo com face humana". No momento em que se consolida a crença de que os benefícios de curto prazo foram obtidos por condições que retiraram a capacidade de crescer da economia de mercado e que, portanto, estão destinados a desaparecer, o problema político se agrava. Começam a surgir opções voluntarísticas que oferecem o "Eldorado". A característica fundamental das propostas de todo "Eldorado" (pleno emprego, perfeita igualdade, ausência de inflação etc.) é a troca de um pouco de liberdade no presente por um pouco de felicidade no futuro...
A grande verdade é que as sociedades abertas não sabem produzir o "Eldorado", mas têm se revelado suficientemente flexíveis para resolver seus problemas dentro do regime de liberdade individual. As sociedades fechadas revelaram-se incapazes daquela flexibilidade institucional e, por isso, ruíram fragorosamente. Terão nossos altruístas amadores às vésperas do poder entendido isso?

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