São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Um tiro contra Lula

Gilberto Dimenstein
BRASÍLIA – Com recursos dos bancos, algumas das mais criativas cabeças da publicidade brasileira preparam uma milionária (fala-se em no mínimo US$ 10 milhões) campanha não apenas para explicar o Plano Real, mas para difundir confiança nele. Os banqueiros não admitem oficialmente, mas, em conversas reservadas, fazem a tradução política: dar um tiro na candidatura Lula.
Foram convocadas cinco das melhores agências de publicidade do Brasil –lembre-se que é apenas um trabalho complementar à campanha oficial, estimada em US$ 12 milhões. Ou seja, serão gastos US$ 22 milhões para dizer, em essência, que a inflação vai cair e, portanto, melhorará a vida do brasileiro.
Tão importante quanto o sucesso concreto do plano –ou seja, a inflação baixar de verdade– é a percepção do sucesso. Explicando melhor: é a confiança de que os preços estão mesmo sob controle.
Óbvio que, com isso, ganha mais combustível a candidatura Fernando Henrique Cardoso. Não é à toa que ele está repetindo: se eleito, vai dar continuidade ao plano, enfatizando a "distribuição de renda". Parte do pressuposto de que, pelo menos por cinco meses, a inflação estará baixa –idéia, aliás, compartilhada pela imensa maioria dos economistas, muitos deles, inclusive, do PT.
Apesar de a inflação estar gigantesca, Fernando Henrique garantiu o segundo lugar nas pesquisas. Previsível que, baixando a inflação e em meio ao estardalhaço publicitário, venham mais pontos, credenciando-o ao segundo turno.
Essa campanha publicitária mostra mais uma vez que o jogo só está começando.
PS – Há tempos não ouvia tamanho disparate. Novo integrante do comando da campanha de FHC, Alemão (Enílson Moura), da Força Sindical, disse ontem que Lula é um "trabalhador burro". Explicou: "Se fosse inteligente, não teria perdido um dedo. Só trabalhador burro sofre acidente de trabalho". O Brasil é um dos campeões mundiais em acidentes de trabalho, não por causa da "burrice" dos empregados, mas pela estupidez e insensibilidade de empresários. Espantoso que um dirigente sindical tenha a coragem de falar tremenda barbaridade.

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