São Paulo, quinta-feira, 9 de junho de 1994
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Com real, PT e PMDB gritarão "estelionato"

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com real, PT e PMDB gritarão 'estelionato'
No início de agosto, começa a propaganda eleitoral no horário gratuito quase ao mesmo tempo em será divulgada a inflação de julho, a primeira da nova moeda, o real.
Conjugam-se, portanto, os dois fatores que a quase unanimidade do mundo político acredita serem os decisivos para uma eleição até aqui marcada por notável estabilidade na intenção de voto nos principais candidatos.
Por isso, a batalha de propaganda em torno do real e sua inflação já ocupa espaço importante nos QGs partidários.
Os dois principais adversários da candidatura de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), suposto beneficiário de uma inflação baixa, já preparam o grito de "estelionato eleitoral".
"É evidente que para nós é estelionato", antecipa-se Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo do PT.
"É um conto-do-vigário e o criminoso não pode nem vai se beneficiar do crime", ecoa Orestes Quércia.
O candidato do governo, Fernando Henrique Cardoso, vai naturalmente cantar vitória, seja qual for o índice, desde que, como é óbvio, não seja alto.
"Qualquer taxa baixa já é um sucesso", antecipa o deputado José Serra (PSDB-SP), candidato ao Senado.
"De 3% a 5% é um relativo sucesso", concorda em parte Guido Mântega, um dos economistas do PT. Mas o PT prepara-se para relativizar e muito o sucesso.
"Não podemos nos limitar ao índice de inflação. É preciso ver também o desemprego e a capacidade de consumo da população", diz Mântega.
O economista do PT admite que o estancamento do processo inflacionário "sempre causa uma recomposição para os salários", mas desconfia que ela não será suficiente para dar um empurrão decisivo na candidatura FHC.
Motivo: "A capacidade de consumo da população entra no real em um patamar muito baixo, que se agravará ainda mais nos 15 dias finais de junho", calcula Mântega. "A inflação pode ser de 3% ou 4% mas com queda no consumo", completa.
O deputado José Aníbal (PSDB-SP), candidato à reeleição, contra-ataca. "O grosso dos trabalhadores, que estão na faixa até 3 ou 4 mínimos, vai ter uma clara percepção de que, com o real, não precisa correr às compras porque os preços não vão subir alucinadamente", afirma.
José Serra, por sua vez, já tem pronto o contra-argumento também para a questão do desemprego, a ser acenada pelo PT. "O desemprego que está aí não tem vinculação com o plano econômico", afirma o candidato a senador.
O PT e o PSDB coincidem, no entanto, em um ponto. Nem Serra nem Mântega nem Marco Aurélio Garcia atribuem ao real, seja qual for a inflação nos meses até o pleito, um peso decisivo.
"A redução da inflação é importante eleitoralmente, mas não é um fator decisivo", opina Serra.
O deputado diz, ainda, que não há um automatismo entre a queda da inflação e a popularidade do ministro responsável pelo plano que a derrubou.
"Estive em Israel, em 1985, e o ministro que fizera o plano de estabilização não era uma figura popular", compara Serra.
Concorda Marco Aurélio: "A estabilização traz um certo benefício para a candidatura FHC, mas ela não vai navegar apenas nisso".
O candidato do PMDB, Orestes Quércia, é ainda mais enfático. Acha que o plano vai fracassar de saída e, portanto, não poderá ajudar em nada a candidatura do seu autor.
Visto por olhos de um economista que tenta ser neutro, embora seja candidato a deputado federal pelo PSDB, como Antônio Kandir, não é bem assim.
Kandir estabelece até números mais ou menos precisos a partir dos quais traça o limite entre o sucesso e o fracasso (ver quadro), com as respectivas consequências eleitorais.

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