São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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A copa das urnas

JANIO DE FREITAS

A entrada do real e seu efeito sobre a inflação são reconhecidos, parece que unanimemente, como o fator que ainda pode provocar consequências profundas nas disposições do eleitorado. Há outro, no entanto, de peso talvez equivalente e que parece unanimemente esquecido: é o desempenho do Brasil na Copa do Mundo.
Entre o real e a Copa há uma diferença essencial. Sabe-se em que direção eleitoral o efeito positivo ou decepcionante do real pode se manifestar. A Copa não oferece a mesma clareza. Mesmo que o êxito do real não seja pleno, a euforia do quarto título ajudaria a engrandecer o êxito antiinflacionário apenas relativo? Ou não? E se acontecer a conquista da Copa seguida do êxito convincente do real, Lula terá condições de resistir ao oba-oba dos meios de comunicação? Não sei responder.
Em caso de derrota, qual será o êxito necessário ao real para compensar, em termos eleitorais, a fossa da pátria? O eleitorado de Lula, grande parte dele movida pelo combustível emocional, não cederia em nada à depressão da derrota? Continuo sem saber responder.
Mas convencido de que ainda há muito jogo eleitoral pela frente.

Surpresa
A pesquisa do Ibope ontem divulgada deu um quiproquó daqueles. Embora o instituto informe que a pesquisa foi feita entre os dias 2 e 6, já no dia 6, segunda-feira, as hostes fernandistas antecipavam o resultado de 37% para Lula e 19% para Fernando Henrique. Um jornal simpático ao segundo colocado chegou a publicar os números.
No dia mesmo da liberação da pesquisa pelo Ibope, anteontem, era o próprio Fernando Henrique que informava às cúpulas do PSDB e do PFL, de acordo com o previsto, aquele resultado estimulante. Enquanto Lula, passando de 36% em 6 de maio para 37% um mês depois, com este um ponto crescera apenas 2,7%, Fernando Henrique, subindo de 15% para 19%, com estes quatro pontos crescera 26,6%. Dez vezes mais que o adversário. Não podia haver melhor resultado, antes do real, como resposta aos correligionários críticos e desanimados.
O Ibope não pôde, porém, confirmar o que estava previsto e se tornara motivo de intensos comentários entre políticos. Já para o fim da tarde jogava repentina água gelada no entusiasmo tucano-pefelista, dando 39% a Lula e 17% a Fernando Henrique.
O quiproquó ainda não acabou nas hostes fernandistas. Com sobras para cima do Ibope. Mas Fernando Henrique tem motivos para esperar que a pesquisa do Vox Populi retrate os efeitos do seu aconselhamento com os colloristas Egberto Batista e Marcus Coimbra, diretor daquele instituto.

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