São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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As boas falas de Parreira

ALBERTO HELENA JR.

Juro que, quando vi os dois gols hondurenhos, em San Diego, pensei cá comigo: pronto, Parreira já tem a justificativa para a manutenção de seus dois atacantes e quatro médios.
Sim, porque foi exatamente no início do segundo tempo, quando Muller já estava em campo, no lugar de Zinho, que os hondurenhos criaram duas chances de gol e fizeram o seu primeiro, assim como o segundo, todos da mesma maneira: em contragolpe, pela esquerda, nas costas de Leonardo e em cima da cobertura de Ricardo Gomes.
Por isso, na escaldante manhã de ontem, já em Los Gatos, logo após o treinamento coletivo dos reservas contra um time americano, esperei uma folguinha para saber de Parreira o seguinte: tá bom, tomamos os gols quando estávamos com três atacantes, no segundo tempo, mas poderíamos também ter levado outros dois, no primeiro tempo –um deles, de letra–, com apenas dois atacantes e quatro meio-campistas. Para minha surpresa, confesso, Parreira concordou e acrescentou: "Não importa se você está com três ou quatro no meio-campo, sempre pode haver contra-ataque e sempre ele será fatal. Nas duas formações, precisamos é estar atentos a ele".
Boas falas do nosso treinador, que já começa a admitir a utilização de um ataque mais contundente. Aliás, a entrada de Muller, combinada com a presença de Leonardo pela lateral, formou a ala esquerda do São Paulo, o que transformou aquela zona até então morta, sob o domínio de Zinho, numa área de geração permanente de jogadas perigosas para o adversário. Não só pelas características dos jogadores, mas, sobretudo, pelo entrosamento entre eles, que vem de muito tempo.
Mais uma luzinha no fim do túnel.
*
Ontem, em Santa Clara, os reservas fizeram um coletivo contra americanos da primeira divisão. Na verdade, a intenção era promover o reencontro de Branco com a bola. Foi, digamos, um tímido reencontro. Branco, evidemente, carece ainda de muito preparo físico para jogar uma Copa do Mundo. De outro lado, era impressionante o vigor de Cafu, que entrou no jogo contra Honduras, na véspera, aos 38 minutos do primeiro tempo, correu como um louco, viajou à noite e, de manhã, sob um sol escaldante, dava piques de cem metros, aos 58 minutos de prática. Trata-se de um fenômeno, um jogador que alia técnica, arrojo, velocidade e resistência, como, talvez, nenhum outro no mundo.
Resumindo: é um crime mantê-lo na reserva da nossa seleção.
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O que sobrou da goleada de 8 a 2 sobre Honduras, além da perspectiva de termos três atacantes mais cedo do que se esperava? De positivo, as atuações de Jorginho, no primeiro tempo, e de Cafu, no segundo. Nenhuma novidade, certo. Além disso, a excelente movimentação da dupla de artilheiros, Bebeto e Romário, que, ainda por cima, acertaram o pé, embora ainda tivessem desperdiçado algumas chances incríveis. Mas isso é do jogo. Ah, sim, também a confirmação da boa fase de Mauro Silva e uma ação mais ofensiva, embora descoordenada, às vezes, de Dunga. De negativo: o temor de que Raí não deslanche e que nossa zaga central venha a soçobrar.
Afinal, esse era o típico jogo para Raí matar a pau e a zaga até mesmo esnobar, dada a fragilidade do time contrário. Deu-se o oposto.

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