São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
Próximo Texto | Índice

Garota de Ipanema vence na Ópera de Viena

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A VIENA

A soprano carioca Eliane Coelho está inflamando platéia e crítica em um dos teatros de ópera mais famosos do mundo: a Ópera Estatal de Viena.
O nome e as fotos da cantora figuram em todos os cartazes da ópera. Seu sobrenome é gritado em cena: "Coêl-ho! Coêl-ho!"
Coelho se criou na praia de Ipanema, Rio, nos anos 60 e 70. Não diz idade, mas beira os 40. Tem currículo de estrela internacional. Trabalha desde 1991 para a Ópera de Viena. A instituição mantém um grupo de elite de intérpretes internacionais, com salários médios de US$ 10.000 mensais.
O estrelato veio no último ano, quando cantou "Il Tabarro" em Viena ao lado do tenor e superastro espanhol Plácido Domingo.
Em janeiro, dividiu a cena com Domingo em "Os Contos de Hoffmann", de Offenbach. Há dois anos, extasiou os críticos de Viena, Munique e Tóquio com "Salomé", de Richard Strauss.
Logo depois, atacava de Eletra em "Idomeneo", de Wolfgang Amadeus Mozart, com regência do maestro inglês Colin Davis.
Começou como soprano coloratura (voz aguda e virtuosística) e agora envereda também pelo lírico spinto (voz que tende para o dramático). Está no auge.
Os críticos se referem a ela como "o milagre de Eliane", parafraseando a ópera "O Milagre de Heliane" (1927), do compositor austríaco Erich Wolfgang Korngold, banida pelos nazistas e só agora reabilitada.
O "milagre de Eliane" se incorpora nesta semana em outra ópera "degenerada" e restituída aos palcos, "Cardillac" (1926), do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963).
Eliane estreou no último sábado o papel de Dama, com sucesso. Volta nesta segunda-feira e dias 17 e 23 deste mês.
Os fãs a aguardavam na saída dos artistas do teatro."Será que Coelho vem?", perguntava um japonês com o programa na mão.
O elenco todo apareceu, menos Coelho. Participava de um banquete em sua homenagem, no teatro.
Está tão ocupada que se dá ao luxo de declinar compromissos. Como o da ópera "La Clemenza di Tito", em 1991, no Festival de Salzburgo. Ou "Crepúsculo dos Deuses", de Wagner, que estrelaria neste dia 26 em Viena. Prefere descansar três dias e encabeçar "Os Contos de Hoffmann".
Nunca gravou discos. Quer fazê-lo em 1995, com Domingo.
Em setembro, faz "Aída" em Estocolmo. Canta "Salomé" em Munique e Dresden em 1995. A agenda está cheia até 1997.
Eliane afirma que o único milagre em sua vida foi o de ter tido coragem de viver na Europa sem olhar para trás.
O milagre de Eliane, porém, tem outros componentes. Ela conseguiu se impor na cena européia como poucas cantoras brasileiras.
Antes dela, houve dois casos. A soprano Bidu Sayão, 90, chegou nos anos 40 ao Metropolitan Opera House de Nova York.
A soprano Constantina Araújo, morta em 1966 aos 42 anos, tomou o Scala de Milão na década de 50. Só faltava a Ópera de Viena para rematar uma santíssima trindade do divismo nacional.

LEIA MAIS sobre Eliane Coelho à pág. 5-3

Próximo Texto: Cantora passa anônima no RJ
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.