São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Voix Bulgares' leva folclore à parada pop

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não perca. O coro feminino "Le Mystère des Voix Bulgares" (O Mistério das Vozes Búlgaras) canta no sábado, 9 de julho, em Campos do Jordão e no domingo, 10 de julho, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
"Le Mystère des Voix Bulgares", uma das principais atrações do 25º Festival de Inverno de Campos do Jordão, apresenta canções folclóricas da Bulgária, harmonizadas em arranjos modernos que já seduziram músicos como David Byrne e Robert Plant.
Fundado pelo arranjador e maestro Philip Koutev em 1952, o coro feminino da Estação de Rádio e Televisão Búlgara, como era seu nome original, chegou à parada pop da "world music" somente no fim da década de 80. Em 1990, com o disco "Le Mystère des Voix Bulgares vol. 2" elas ganharam o prêmio Grammy.
No próximo mês as 24 integrantes do coro feminino apresentam-se pela primeira vez no Brasil. Elas têm entre 25 e 55 anos e vestem-se com trajes folclóricos de diferentes regiões da Bulgária.
"O Brasil é um país totalmente novo e desconhecido para nós", disse Dora Hristova, 46, regente do "Le Mystère de Voix Bulgares". Hristova falou à Folha por telefone, de Sófia na Bulgária.

Folha - Como o coro passou a ser conhecido pelo nome "Le Mystère des Voix Bulgares"?
Dora Hristova - O nome foi dado pelo produtor do disco que nos tornou conhecidos. Nosso primeiro disco é de 1975. Mais tarde, em 1987, fizemos nossa primeira turnê européia, já com o nome de "Le Muystère des Voix Bulgares".
No ano seguinte, em 88, fizemos a segunda turnê européia e a primeira turnê americana. Estávamos promovendo o "Le Mystère des Voix Bulgares vol. 1". Este foi o momento em que tivemos nosso grande sucesso internacional. Em 1990, o volume dois ganhou o Grammy. Então o coral ficou conhecido com esse nome.
Folha - A posição geográfica da Bulgária faz com que o país sintetize o oriente e o ocidente na sua música?
Hristova - Com certeza. Nossa localização é o cruzamento entre todas as culturas. Nossa música folclórica teve influências de diversas culturas, a árabe, a indiana, a do ocidente.
A Bulgária ficou durante cinco séculos (entre os séculos 14 e 19) sob a opressão dos otomanos. Durante esse período, o povo búlgaro preservou suas canções folclóricas. Era a única maneira de manter viva a cultura. Assim a tradição foi conservada durante esses cinco séculos de opressão.
São essas músicas muito antigas, da Idade Média, que fazem sucesso no exterior e são consideradas muito originais.
Folha - O quanto a maneira de vocês cantarem hoje já se distanciou da interpretação original dessas músicas?
Hristova - As vozes seguem a tradição. Os solos, a maneira de cantar, são vozes muito fortes que procuram manter a tradição. O arranjo do coral é que é novo.
Compositores contemporâneos usam as canções originais e as harmonizam de uma maneira moderna para serem apresentadas pelo coral. Esse arranjo é muito novo e moderno, mas as canções, o material original, são da Idade Média.
Folha - Essas canções falam sobre o quê?
Hristova - São sobre a vida cotidiana. O trabalho, o amor, o casamento, a natureza. Há algumas canções que estão ligadas a rituais.
Folha - As integrantes do grupo ainda são escolhidas nos vilarejos da Bulgária?
Hristova - As cantoras vêm principalmente dos vilarejos. Claro que as mais jovens, hoje em dia, conhecem tudo da música das cidades ou mesmo já viviam na capital.
Mas suas mães ou avós vêm dos vilarejos e elas estão também familiarizadas com essas canções. É uma maneira de passar a tradição por gerações.
Hoje é cada dia mais difícil encontrar cantoras, mas fazemos concursos todos os anos.
Folha - Como as mudanças políticas no seu país interferiram no relacionamento entre o governo e grupos como o seu?
Hristova - Antes, nosso coro era totalmente financiado pelo Estado. Hoje, ainda é, mas parece cada vez mais difícil conseguir esse patrocínio. O financiamento pelo governo é hoje algo muito questionável. Os salários também são, digamos, questionáveis.

Texto Anterior: Soprano quer evitar marketing pessoal
Próximo Texto: Brasileiros assistem simpósio sobre Nelson
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.