São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Brasileiros assistem simpósio sobre Nelson

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DO ENVIADO ESPECIAL A VIENA

Há sempre um grupo de bravos brasileiros interessado em prestigiar eventos brasileiros no exterior. O fato se repetiu no último sábado em Viena, durante o Simpósio Nelson Rodrigues, realizado no café do Festival de Viena.
O comparecimento brazuca é fruto do êxodo e prova de que Nelson Rodrigues é unanimidade nacional. Não encontrou a mesma receptividade entre os críticos austríacos (leia texto abaixo) na estréia de sua peça, "A Falecida", na última quinta-feira.
O simpósio durou duas horas. Magaldi deu início. Fez um panorama de toda a obra teatral do escritor. "Lamento que ele não esteja vivo para ver este acontecimento", afirmou.
Gabriel Villela explicou o espetáculo como "uma grande partida onde não há vencedores": "A cultura brasileira é a do jogo, da brincadeira e da frustração.
O enterro de Zulmira (personagem principal da peça) é o de todos nós. O funeral com que Zulmira sonhava e Ayrton Senna teve, é algo que conhecemos. Os enterros no Brasil são maravilhosos".
Thoreau afirmou: "Em cada brasileiro há um Tuninho". Referia-se ao marido traído de Zulmira, que troca a tragédia pelo futebol. "Como no enterro de Senna, os brasileiros são capazes de mostrar gestos exagerados e três semanas depois se esquecer de tudo."
O público ria antes de o tradutor para o alemão falar. Thoreau concluiu com uma defesa de suas traduções de Nelson Rodrigues: "Tentei passar o texto curto e cortante de Nelson para o alemão. Ficou estranho, o leitor comum o acha incompleto. Mas resolvi deixar assim para não perder a poesia de Nelson".
Pierwoss contou a trajetória das peças rodriguianas na Alemanha (a primeira de Nelson representada lá foi "Beijo no Asfalto", em 1988, em Colônia). Ele anunciou que "A Falecida" será representada em alemão e Colônia no ano que vem.
No final, o público saiu feliz. Thoreau jurou que Nelson Rodrigues fará sucesso na Alemanha. "Seu texto tem mais a dizer aos alemães do que Botho Strauss e outros autores contemporâneos."
Se, como disse Nelson, toda unanimidade é burra, então a burrice atingiu sua obra. E acaba de cruzar fronteiras. (LAG)

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