São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Tapas e beijos sustentam cinema mundial

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Pelo menos três quartos do cinema americano se apóia sobre o princípio do "boy meets girl", mais conhecido como mocinho encontra mocinha. Três quartos dos filmes franceses são variantes sobre o triângulo amoroso. Metade da produção italiana gira em torno da instituição do corno.
Em poucas palavras, se o Dia dos Namorados tivesse sido inventado pela indústria cinematográfica ninguém ficaria espantado.
É um terreno fartamente convencional. Quem viu Sandra Dee na série "Gidget" ou Annette Funicello com sua Turma da Praia conhece mais ou menos todas as variantes do namoro.
A coisa esquenta quando se entra nas grandes disfunções. Que tal "Gilda"? Glenn Ford é Johnny, "um nome difícil de lembrar e fácil de esquecer", segundo Gilda.
Glenn finge que não está nem aí com Gilda/Rita Hayworth. Ela também. Todo mundo sabe que um está a fim do outro. Mas é a maneira descarada como mascaram seus sentimentos que faz do desejo a figura central do filme.
O amor tem suas musas atormentadas, setor em que Lana Turner continua imbatível. Mas as experiências de exceção acabam sendo mais memoráveis. Um fantasma frequente: a mulher casa com um homem que o fascina, mas cuja verdadeira natureza desconhece.
Joan Fontaine passou por essa experiência em "Suspeita" (Hitchcock, 1942). Joan Bennett amargou-a em "O Segredo da Porta Fechada" (Fritz Lang, 1948). Em "O Colecionador" (William Wyler, 1964), Terence Stamp escolheu uma maneira singular de demonstrar seu interesse por Samantha Eggar: raptando-a.
Geneviève Bujold foi responsável pela tragédia de "Gêmeos - Mórbida Semelhança" (Cronenberg, 1988). Quando um dos irmãos gêmeos (Jeremy Irons) se apaixona por ela, rompe a unidade entre os dois: quebra-se o frágil equilíbrio que permitia aos dois viver como se fossem um só.
Jeremy Irons, no mais, ilustra outras formas de amor pouco convencionais. Em "Perdas e Danos" (Louis Malle, 1993) rouba a noiva do próprio filho. Em "O Reverso da Fortuna" (Barbet Schroeder, 1990) faz Von Bulow, o homem que dá o golpe do baú em sua rica mulher e depois trama sua morte.
Nem só de desgraças se faz o amor, como ilustra "O Raio Verde" de Eric Rohmer (1986). Em férias, a jovem Delphine roda a França colecionando solidões. Vale a pena. No fim, ela encontrará o jovem Vincent. Juntos, à beira do mar, verão o fugaz, improvável raio verde que aparece ao pôr-do-sol. Aí é batata: Delphine encontrou sua alma gêmea.

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