São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Última chance de mudar

ALBERTO HELENA JR.

Hoje é a última chance de Parreira alterar substancialmente o time que vai estrear contra a Rússia, na Copa do Mundo. O jogo contra El Salvador, em Fresno, é o último da série programada para nosso técnico definir o time que começa jogando o Mundial.
Digo que começa porque a história ensina que quase nunca termina sendo o mesmo. Mas há mudanças e mudanças. Em 38, por exemplo, o Brasil mudou praticamente todo o time para o segundo jogo contra a Tchecoslováquia. Dos titulares, só jogou Leônidas, que se contundiu e ficou de fora da partida contra a Itália.
Isso porque entre um jogo e outro –um em Bordeaux e o outro em Marselha– havia o exíguo espaço de dois dias. O técnico Pimenta, então, resolveu poupar os titulares, menos sua maior estrela, pois o reserva, Niginho, estava impedido, legalmente, de disputar a Copa da França. Resultado: perdemos Leônidas, machucado, e a classificação à final para a Itália.
Em 50, Flávio Costa também fez uma modificação circunstancial. No jogo contra a Suíça, no Pacaembu, entrou um outro time, com o máximo de paulistas disponíveis para agradar à torcida.
Empatamos o jogo, e Flávio perdeu a chance de apaziguar os paulistas, ao escalar o curinga Alfredo 2º, do Vasco, na ponta-direita que era reclamada para Cláudio Cristóvão do Pinho, o xodó corintiano.
Na Copa da Suíça, Zezé Moreira só mexeu no ataque, entrando Maurinho na ponta-esquerda no lugar de Rodrigues, contundido, e Índio, Baltazar, Humberto e Pinga se revezando no comando do ataque e na meia-ponta-de-lança.
As mudanças técnicas que deram certo só foram acontecer em 58, quando Zito, Pelé e Garrincha, de cambulhada, estrearam contra a União Soviética, terceiro jogo do Brasil na Copa. Na final, entrou Djalma Santos, no lugar de De Sordi.
Em 62, tivemos a famosa substituição de Pelé por Amarildo, tão somente, e em 66, mudou-se tudo, tanto que virou bagunça e voltamos mais cedo pra casa.
Em 70, as mudanças vitais foram feitas em casa, pouco antes da despedida contra a Áustria. Aí entraram Rivelino na ponta-meia e Tostão no comando do ataque, contra a vontade de Zagalo e por imposição da opinião pública. As alterações durante a Copa, uma aqui outra ali, deram-se por conta de contusões dos titulares, que voltaram logo a seguir.
Nas duas Copas seguintes, as mudanças nada alteraram. E só em 82 pudemos manter uma equipe praticamente em todos os jogos. Encantamos o mundo, mas perdemos. Assim como em 86, quando perdemos sem encanto, para, em 90, nem mesmo desencantarmos, pois a principal mudança não foi feita: a troca do treinador antes mesmo do embarque para a Itália.
Hoje, contra os salvadorenhos, tudo com o time já cristalizado ou promovendo enxertos em penca, dificilmente deixaremos de repetir a performance cumprida contra Honduras. O que é bom, para infundir moral nos atletas. Mas o que também é ruim, se subir-lhes à cabeça.
Hoje, Parreira testa Mazinho no lugar de Raí. No treino de sexta-feira, foi uma festa de gols, contra o time reserva todo desfigurado. Mas nem se os 10 a 0 do treino se repetirem neste domingo, nem assim, Raí estará fora da estréia. A não ser que Mazinho faça chover, diz o técnico.
Olho para o céu azul, azul, sem um fiapo de nuvem, e volto para o hotel, certo de que nada mudou.

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